Uma regra estabelecida há 500 anos pelo célebre artista, estudioso e inventor Leonardo da Vinci está sendo contestada em um artigo de pós-graduação em ciências ambientais de um estudante da Universidade de Bangor, no País de Gales. Chamada de “regra das árvores”, a proposição descreve a forma correta de desenhar árvores, mas tem sido adotada como parâmetro da natureza exata das relações de escala biológica.
Ao fazer esboços de plantas em seus cadernos, da Vinci percebeu que "todos os galhos de uma árvore em cada estágio de sua altura são iguais em espessura ao tronco quando colocados juntos". A regra secular revelou-se utilíssima para artistas iniciantes. Porém, tal proporção não se sustenta no nível microscópico, concluem os autores do novo estudo.
Naturalmente, na passagem do século XV para o XVI, a percepção das árvores se limitava ao seu exterior, não sendo tecnicamente possível observar o interior das madeiras altas. Nessas estruturas, a água é sugada por uma série de tubos internos, que compõem um tecido chamado xilema, para repor a água evaporada através das folhas.
Contestando Leonardo da Vinci
A nova modelagem hidráulica interna é oposta à regra de da Vinci.Fonte: Getty Images
Coautores do trabalho, Stuart Sopp e Ruben Valbuena queriam mostrar como a rede vascular das plantas poderia ser otimizada com base apenas na manutenção da resistência hidráulica. O objetivo era ter certeza de que os modelos de crescimento das árvores atuais estão corretos, para entender melhor a vulnerabilidade dessas utilíssimas estruturas vegetais à seca.
Com base na modelagem hidráulica interna das árvores, os autores propõem que os canais vasculares se alargam à medida que os galhos se afinam em direção ao topo das árvores, para adquirir um empuxo suficiente para “sugar” a água pelo tronco.
Teoria da escala metabólica e mudanças climáticas
Modelos de volumes de redes ramificadas. Fonte: Sopp et al.
Ao ressignificar a teoria davinciana, os pesquisadores destacam que o seu novo modelo também refina a chamada teoria da escala metabólica (MST), que busca esclarecer como as características dos organismos estão relacionadas ao seu tamanho. Os recálculos explicam “porque é que as árvores grandes são mais suscetíveis à seca e também podem estar mais vulneráveis às alterações climáticas”, afirma Valbuena em um release.
Como as previsões da MST têm sido contestadas em diversos estudos, pois muitas florestas não se enquadram aos seus pressupostos, o que se espera é que o modelo de Sopp e Valbuena possa servir para uma melhor compreensão da vulnerabilidade das árvores à seca e outros efeitos adversos do clima.
Em um comunicado à imprensa, Sopp, que faz atualmente seu doutorado em Ciências Ambientais em Bangor, disse que um dos objetivos do trabalho foi "produzir uma proporção que pudesse ser usada para estimar a biomassa das árvores e o carbono nas florestas". Esta medida é crucial na elaboração de políticas para a mitigação das mudanças climáticas.
Ficou com alguma dúvida? Conte para gente em nossas redes sociais e aproveite para compartilhar a matéria com os seus amigos que também gostam desses assuntos!
Fontes