Apelidado de “Unknome”, um novo banco de dados foi divulgado nesta semana por pesquisadores do Reino Unido com o objetivo de disponibilizar publicamente a classificação de proteínas codificadas no genoma humano, que, apesar conhecidas, não tiveram ainda suas funções estudadas a fundo.
Embora o genoma humano tenha sido codificado em 2003, ainda não sabemos com certeza como todos os seus genes funcionam. E, ainda que de já conseguirmos editá-los graças à técnica CRISPR, não sabemos ainda como o conjunto de genes humanos interagem entre si e muito menos como o genoma responde ao ambiente.
De acordo com o primeiro autor do artigo, João Rocha, da Universidade de Cambridge, existem muitos motivos para que esses genes permaneçam até agora pouco conhecidos. Falando ao site Science Alert, ele afirma que existe um direcionamento dos financiamentos para os genes com importância clínica já comprovada, ou aqueles mais numerosos ou mais difundidos em espécies de laboratório.
Como funciona o Unknome?
How ignorance can drive biological discovery: Sean Munro’s group in @CellBiol_MRCLMB has created an Unknome database with @mjafreeman at @Dunn_School, which ranks proteins based on how little is known about them.
— MRC Laboratory of Molecular Biology (@MRC_LMB) August 9, 2023
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Formado com as sílabas iniciais e finais do termo inglês UNKNown GenOME (genoma desconhecido), o banco de dados Unknome "classifica as proteínas com base em quão pouco se sabe sobre elas", diz o artigo, publicado na revista PLOS Biology. Para facilitar a pesquisa, os autores atribuíram a cada proteína uma pontuação de "conhecimento".
Essa "nota" reflete "informações na literatura científica sobre função, conservação entre espécies, compartimentalização subcelular, e outros elementos", conforme um comunicado à imprensa. Aplicando esse método, os pesquisadores se surpreenderam com o fato de que muitos milhares de proteínas do genoma humano têm pontuação próxima de zero.
Testando o Unknome
Os autores suprimiram células de moscas que têm genes correspondentes aos humanos.Fonte: Getty Images
Para testar, na prática, como o banco de dados pode ser usado, os autores escolheram 260 genes humanos para os quais há correspondência no genoma da mosca Drosophila, e que possuíam pontuações de conhecimento de 1 ou menos em ambas as espécies. Então, deletaram sistematicamente todos os genes compartilhados nas moscas em desenvolvimento.
Como um grande número dessas moscas morreu, ficou claro que as proteínas que esses genes codificam têm um papel crítico na biologia animal. Removendo posteriormente a expressão dos genes das moscas somente em alguns tecidos, mas não em outros, os pesquisadores puderam determinar algumas de suas funções desconhecidas, como fertilidade masculina, controle de qualidade da proteína e resistência ao estresse.
Os resultados mostraram que, mesmo após décadas de estudos, ainda existem milhares de genes de moscas (e consequentemente do genoma humano) que precisam ser compreendidos em seu nível mais básico. “Esses genes não caracterizados não merecem ser negligenciados”, afirma o coautor Sean Munro.
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