Não há dúvida de que tanto os oceanos quanto o espaço sideral são os maiores mistérios da ciência atualmente – e foi, talvez, em toda a história. Isso porque, em ambos os contextos, os seres humanos são impedidos de explorar livremente esses ambientes, seja para fins de pesquisa ou para passeios no fim de tarde (pelo menos, por enquanto, não temos essa opção).
Com a impossibilidade de sobreviver nesses espaços extremos sem ajuda da tecnologia, muitas perguntas e mistérios sobre as profundezas do universo e dos mares tiram o sono de pesquisadores e cientistas.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
E sobre o assunto, uma das informações que correm soltas pela internet – e que assusta muita gente – é que atualmente, sabe-se mais sobre o espaço sideral do que dos oceanos. Mas será que isso é verdade mesmo?
Estima-se que mais de 80% dos oceanos estejam inexplorados (Reprodução/Getty)
Sabemos mais sobre o espaço ou sobre os oceanos?
A resposta mais óbvia e comum é imaginarmos que sabemos mais sobre nosso próprio planeta do que a vastidão do espaço, não é? Neste caso, porém, não é bem assim.
Os oceanos representam cerca de 70% da superfície da Terra, com uma profundidade média de 12.100 pés (3.688 metros). Quando falamos sobre o ponto mais profundo da Terra, a Fossa das Marianas, estamos falando sobre incríveis 35.876 pés (aproximadamente 10.935 metros). Para fins de comparação, nem o Monte Everest, com seus 29.030 pés e 8.849 metros alcançaria a parte mais profunda do oceano.
- Leia também: Por que explorar o fundo do mar é tão difícil?
Além da imensidão e da profundidade, os oceanos são extremamente inóspitos para os seres humanos, já que, quanto mais fundo, a pressão da água pode até esmagar uma pessoa em segundos – em alguns pontos do fundo do mar, a pressão e a gravidade equivalem ao peso de 50 jatos pousados em uma pessoa, segundo o pesquisador Gene Feldman, oceanógrafo da NASA desde 1985.
Isso sem contar os animais (que, provavelmente, ainda nem foram descobertos) e a água extremamente gelada, considerando que a luz do sol não atinge as áreas mais profundas.
Além disso, enviar submarinos e veículos subaquáticos para a exploração do fundo do oceano demanda um alto investimento - assim como o lançamento de foguetes, é claro. Mas aqui fica o pulo do gato: o estudo de corpos celestes é muito mais fácil do que o estudo dos oceanos.
Dificuldades para pesquisar
Ainda que o espaço sideral seja maior do que o cérebro humano consegue imaginar, os mares basicamente são mais difíceis de estudar devido à falta de tecnologias avançadas. Segundo Pierre Dutrieux, professor e pesquisador em Física do Oceano e do Clima no Observatório da Terra Lamont-Doherty, a superfície da Lua e de Marte, por exemplo, são diretamente iluminados por luz.
Os oceanos são mais difíceis de estudar devido à falta de tecnologias avançadas
Assim, é possível explorar essas superfícies usando sistemas passivos, como os olhos e microscópios, ou sistemas ativos, como radares em satélites para observar o eco gerado pelas superfícies. Vale ressaltar que os satélites conseguem se mover rapidamente e cobrir grandes distâncias, podendo mapear corpos celestes em, relativamente, pouco tempo.
Também são utilizados alguns telescópios bastante poderosos que possibilitam a exploração espacial sem sair da Terra. O Hubble, por exemplo, é capaz de ver distâncias de até 13 bilhões de anos-luz.
Cientistas afirmam que a ciência conhece mais da superfície de Marte do que do fundo dos oceanos (Reprodução/GettyImages)
Já o oceano, por outro lado, é bem diferente. A água se difere muito do ar ou do espaço e as ondas eletromagnéticas de luz e rádio se transmitem com bastante dificuldade pelo líquido – o que explica a escuridão no fundo do mar. Assim, para explorar as profundezas do oceano, são necessárias tecnologias que garantam luz e visibilidade a longa distância da área.
Por isso, alguns pesquisadores apontam ser mais fácil colocar uma pessoa no espaço do que mandá-la para o fundo do oceano. (A título de curiosidade: mais de 600 pessoas foram para o espaço até agora, contra apenas 20 que foram para a Fossa das Marianas!).
Contexto político
Além das dificuldades de exploração, vale lembrar também as interferências políticas que influenciaram o avanço nos estudos do espaço sideral.
Com a Guerra Fria, a corrida espacial entre os EUA e os soviéticos impulsionou os estudos do universo por algumas das principais potências mundiais. Com a exploração espacial e a chegada à Lua em foco, as pesquisas marítimas se desenvolveram mais lentamente e ficaram para trás.
Resumidamente, é possível dizer que, levando em consideração todas as variáveis e dificuldades, realmente conhecemos mais do espaço do que do oceano.
Fontes
Categorias