Enquanto pesquisava um novo grupo de microrganismos nas águas do lago Gossenköllesee, nos Alpes Tiroleses na Áustria, um grupo de pesquisadores liderados pelo ecologista Christopher Bellas, da Universidade de Innsbruck, se deparou com uma descoberta surpreendente: cerca de 30 mil tipos de vírus desconhecidos "escondidos" no DNA dos micróbios analisados.
Em um novo estudo, publicado dia 10 de abril na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, os pesquisadores explicam que essa "invasão em larga escala" ocorre em genomas eucarióticos unicelulares de protistas. Esse grupo não se encaixa nas categorias de plantas, animais ou fungos e é encontrado em uma larga variedade de formas de vida presente em diversos ambientes terrestres.
"Ficamos muito surpresos com a quantidade de vírus que encontramos por meio dessa análise", afirmou Bellas ao ScienceAlert. De acordo com o autor principal do estudo, "em alguns casos, até 10% do DNA de um micróbio consistia em vírus ocultos”. A boa notícia é que esses microrganismos não parecem causar doenças aos seus hospedeiros, se assemelhando a virófagos, uma classe que infecta seus "colegas" patogênicos.
Por que os vírus invadem os genomas de micróbios?
Distribuição de genes característicos de vírus encontrados nas 238 espécies analisadas.Fonte: Bellas et al.
Bellas reconhece que o estudo não conseguiu uma explicação plausível para a existência de tantos vírus em genomas de micróbios. “Nossa hipótese mais forte é que eles protegem a célula da infecção por vírus perigosos”, especula. O estudo afirma que as integrações virais presentes em grande parte dos genomas protistas funcionam como os profagos em genomas bacterianos, elementos genéticos que matam a célula hospedeira exposta a ameaças.
Seja como for, classificados ou não como seres vivos, os vírus certamente se inserem na vida de outros seres. E quando isso ocorre em uma célula germinativa (que transmite a informação genética aos dependentes), resulta em elementos virais endógenos (EVEs), sequências de DNA integradas ao genoma do organismo hospedeiro.
Embora cientistas tenham descoberto EVEs em animais, plantas e fungos, o novo estudo mostra que eles também estão presentes em organismos eucarióticos unicelulares (protistas). A pesquisa também mostrou que EVEs não se resumem a fósseis genômicos, como se pensava. Muitos deles se parecem com vírus funcionais, "o que sugere que diversas matrizes desses elementos podem fazer parte de um sistema antivírus hospedeiro".
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