Um novo estudo realizado com dados de dez anos sobre a Amazônia brasileira revelou que as florestas geridas por comunidades indígenas absorveram, entre 2010 e 2019, cerca de 1,7 tonelada de material particulado (MP 2,5) por ano.
De acordo com os pesquisadores, a apreensão desses poluentes provenientes de incêndios florestais evitou "mais de 15 milhões de casos respiratórios e cardiovasculares" por ano. A estimativa é que a supressão dessas doenças a cada ano representa uma economia de US$ 2 bilhões, ou R$ 10 bilhões, em custos de saúde para os cofres públicos.
Publicado no início de abril na revista Nature Communications Earth & Environment, o artigo esclarece que a proteção proporcionada por terras indígenas densamente arborizadas não se limita ao local, mas também favorece "populações urbanas e rurais, muitas vezes do outro lado da Amazônia, no 'arco do desmatamento'”, isto é, a região sudeste da floresta tropical.
Proteger povos indígenas é questão de saúde pública
Teoria dos grafos: paisagem menos poluída é mais benéfica à saúde e vice-versa.Fonte: Prist et al.
Segundo a principal autora do estudo e pesquisadora sênior do Instituto EcoHealth Alliance, Paula Prist, embora seja notório o fato de as florestas absorverem poluentes de incêndios através de poros na superfície das folhas, esta é a primeira estimativa feita em uma floresta tropical.
Para testar suas hipóteses, os pesquisadores se basearam em uma década de relatórios de doenças cardiovasculares e respiratórias na Amazônia, cruzando esses dados com informações sobre poluentes e coberturas florestais. Os resultados mostraram que as florestas de manejo indígena podem absorver 27% das 26 mil toneladas de partículas retidas por toda a floresta amazônica.
Não se trata apenas de reconhecer e cumprir os direitos territoriais das comunidades originárias da Amazônia para evitar o desmatamento e infecções, alerta Prist. "Nossos resultados sugerem que é necessário agir agora – antes da temporada de incêndios – para proteger os povos indígenas e suas florestas como uma questão de saúde pública”, conclui.
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