Em abril de 1986, o mundo viu o maior desastre nuclear já visto até hoje: o acidente na usina de Chernobyl, que lançou materiais radioativos ao meio ambiente e fez com que as autoridades evacuassem totalmente a cidade de Pripyat — localizada no norte da Ucrânia, a apenas alguns quilômetros da usina —, além de uma área com um raio aproximado de 30 quilômetros ao redor da mesma.
Com a pressa na saída dos humanos, alguns acabaram abandonando seus cachorros que, com o tempo, se espalharam pela região. O abate dos animais de estimação abandonados foi realizado após a evacuação, mas alguns conseguiram escapar. Agora, esses cães estão sendo testados por cientistas que descobriram que eles são ‘geneticamente diferentes’.
Em um estudo inédito publicado na revista Science Advances, pesquisadores estudaram os genomas de 302 cães remanescentes da tragédia de Chernobyl que vivem pela área — incluindo a própria usina e locais próximos, como a cidade de Slavutych (45 km) e Chernobyl (15 km).
Cães geneticamente diferentes?
O estudo analisou as populações de cães em três grupos distintos: os que vivem na cidade de Chernobyl, localizada a cerca de 15 km de distância da usina, os que vivem na cidade de Slavutych, a cerca de 45 km de distância da usina, e os que vivem na própria usina.
Amostras de sangue de 132 cães da usina, 154 cães da cidade de Chernobyl e 16 cães da cidade de Slavutych foram coletadas e tiveram seus genomas sequenciados. Foi descoberto que eles vinham de 15 famílias diferentes.
Foi notado também que as populações possuem composições genéticas diferentes e são “grandes promessas para investigações sobre os efeitos da exposição contínua à radiação ambiental em uma espécie de mamífero de grande porte”.
Cachorro em frente ao sarcófago que isola a usina de Chernobyl, na UcrâniaFonte: Getty Images
“Esse estudo apresenta a primeira caracterização de uma espécie doméstica em Chernobyl, estabelecendo sua importância para estudos genéticos sobre os efeitos da exposição à radiação ionizante de baixa dose e de longo prazo”, disseram os cientistas na pesquisa.
Os cientistas descobriram que os cães que vivem na usina são mais endogâmicos e principalmente com características de pastores alemães, enquanto os cães que vivem a uma certa distância da usina são de uma mistura de raças mais modernas que se assemelham a cães encontrados em outros lugares.
A equipe planeja realizar mais testes e estudos com os cães, e eles esperam que isso possa revelar mutações genéticas associadas à sobrevivência em ambientes radioativos hostis.
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