Buscando sinais de vida extraterrestre desde o início dos anos 2000, a pesquisadora sênior do Instituto SETI em Mountain View, Kimberley Warren-Rhodes, decidiu combinar sua experiência em ecologia estatística com tecnologias emergentes, como inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina. O objetivo é criar um banco de dados abrangente de diferentes cenários similares ao planeta Marte.
Naturalmente, antes que a nova ferramenta possa ser efetivamente utilizada em outros planetas, ela precisa ser "treinada" aqui na Terra. Assim, uma equipe de pesquisadores testou com sucesso uma IA para mapear qualquer recurso que possa fornecer evidências de vida passada ou presente, "não importando quão escondidos ou raros sejam”, diz a pesquisadora em um comunicado.
Trabalhando em um dos lugares mais inóspitos da Terra – o deserto de Atacama no Chile –, a IA reduziu substancialmente uma área de três quilômetros quadrados que precisava pesquisar. Segundo Warren-Rhodes, a área de pesquisa foi reduzida em até 97%, aumentando a probabilidade de encontrar vida em até 88%.
Como foi treinada a IA no deserto do Atacama?
De acordo com o artigo publicado segunda-feira (6) na revista Nature Biology, a equipe de Warren-Rhodes viajou desde 2016 para o quase inabitável planalto do deserto de Atacama, considerado uma versão "genérica" do planeta Marte. A 3,5 mil metros de altitude nos Andes chilenos, os pesquisadores procuraram organismos fotossintéticos (que usam a energia do sol para produzir alimento) presentes em rochas, chamados endólitos.
Para mapear totalmente o ambiente, os autores coletaram desde imagens de drones até análises geoquímicas e sequências de DNA. Esse conjunto de dados é semelhante ao que está sendo coletado atualmente em Marte, por satélites orbitais, drones e rovers. O que se descobriu no Atacama foi que os endólitos são encontrados com mais frequência em um mineral chamado alabastro, que é relativamente macio, poroso e retém água.
Em comunicado à imprensa publicado no site do Instituto SETI, a equipe teoriza que, em um futuro próximo, algoritmos semelhantes ao do experimento podem ser adaptados para diversos tipos de ambiente potencialmente habitáveis. Nesse caso, as bioassinaturas poderiam ser automatizadas em robôs planetários que seriam os "olhos" dos planejadores de missões "para áreas em qualquer escala com a maior probabilidade de conter vida".
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