Um estudo divulgado no mês passado por pesquisadores do Reino Unido e do Japão inovou as perspectivas sobre o futuro do trabalho, ao incluir no discurso público os impactos do trabalho não remunerado. Os dados mostraram que a quantidade de tempo despendida nessas atividades é muitas vezes equivalente ao que se gasta em trabalho remunerado.
De acordo com a pesquisa, publicada no dia 22 de fevereiro na revista Plos One, o trabalho não remunerado se refere às tarefas domésticas – como cozinhar, limpar e lavar roupas – e aos serviços de cuidar de crianças e idosos. Destacando que a maior parte do serviço é desproporcionalmente feito por mulheres, a questão da pesquisa foi: "se os robôs vão tirar nossos empregos, eles pelo menos também levarão o lixo para nós?"
A previsão média obtida pelos especialistas indicou que 39% do tempo gasto atualmente em uma tarefa doméstica serão automatizáveis em dez anos. Curiosamente, os pesquisadores homens japoneses mostraram-se mais pessimistas sobre esse potencial, o que foi interpretado como consequência das disparidades de gênero nos lares japoneses, e mostrou como essas previsões podem ser socialmente contingentes.
Como foi feita a pesquisa sobre o futuro do trabalho não remunerado?
Para comprovar suas hipóteses, os 65 pesquisadores britânicos e japoneses realizaram um exercício de previsão para estimar quão automatizáveis poderão ser 17 tarefas domésticas e de cuidado. Além de avaliar um segmento não contemplado em estudos anteriores, eles também aplicaram uma abordagem sociológica, que considera os diferentes vieses, de acordo com as diversas origens dos especialistas.
Diversas tarefas domésticas têm o potencial de se tornarem automatizadas nos próximos anos (Getty Images)
A pesquisa mostrou que o grau de automação sofre uma grande variação conforme o tipo de trabalho não remunerado envolvido. Assim, o trabalho de cuidador, de crianças ou idosos, pode ser automatizado em apenas 28%, ao passo que a expectativa aumenta para 44% quando se trata de tarefas estritamente domésticas, que incluem cozinhar, limpar e fazer compras.
Talvez a maior contribuição do estudo seja evidenciar que, independentemente do resultado, essas previsões jamais são apenas técnicas, mas também sociotécnicas, ou seja, "previsões de como a tecnologia e a sociedade irão evoluir". Assim, uma equipe técnica que avalia a automatização de uma tarefa não está qualificada para estimar suas consequências socioeconômicas.
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