Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Estudos recentes têm cada vez mais comprovado a eficácia de um tratamento para depressão: se movimentar através de exercícios físicos. Pesquisas já indicavam o efeito protetor da atividade física, no sentido de que pessoas mais ativas fisicamente (geralmente aquelas que cumprem a recomendação semanal de 150 minutos por semana) apresentam menor risco de desenvolver problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, com redução de 27% e 22%, respectivamente.
O que se tem reforçado a partir de novas evidências é que exercícios também são efetivos no tratamento dessas condições. Apesar de ser muito mais fácil ingerir uma pílula com medicamentos antidepressivos (terapia farmacológica) ou ir às sessões de psicoterapia, isso não significa que seja o melhor a ser feito, principalmente quando consideramos custo, acesso, efeitos colaterais e benefícios auxiliares à saúde. O exercício físico é recomendado como um tratamento adjunto para depressão pela OMS. Entenda agora as novidades trazidas pelo estudo.
O artigo científico mais atual sobre o tema foi também o mais abrangente (uma revisão de revisões) e reuniu 97 revisões, totalizando quase 130 mil pessoas nos estudos analisados. Pesquisadores da Austrália concluíram que a atividade física é efetiva para ansiedade e depressão de maneira ampla, para várias populações, mas especialmente em pessoas com depressão, gestantes e puérperas, indivíduos saudáveis e indivíduos com HIV ou doença renal.
Diversos tipos de exercício demonstraram efeito positivo para a saúde mental (Getty Images)
Mas que tipo de exercício funciona? Diversos tipos mostraram eficácia - aeróbio, de força, Yoga, e exercícios combinados. Um detalhe importante: exercício de maior intensidade foi associado com melhorias mais poderosas para depressão e ansiedade, como caminhar em ritmo acelerado em vez do ritmo normal. Isso pode ter acontecido pois o exercício de baixa intensidade pode ser insuficiente para estimular as alterações neurológicas e hormonais que estão associadas a melhorias significativas nessas doenças.
O líder do estudo, Ben Singh, em entrevista para a coluna, destaca que os benefícios são maiores quando se pratica atividade física por seis a doze semanas, em vez de períodos mais curtos, e que manter a saúde mental requer exercícios na rotina constantemente.
"Comparando os efeitos dos exercícios que encontramos aos efeitos da psicoterapia e do tratamento farmacológico encontrado por outras pesquisas, nossos resultados indicam que o exercício físico é aproximadamente 1,5 vez mais potente do que medicamentos ou terapia cognitivo-comportamental”, diz Singh.
Como o exercício combate a depressão?
Não se sabe ainda qual é o mecanismo exato que pode proporcionar melhora da depressão a partir dos exercícios, mas entende-se atualmente que é um conjunto de fatores, incluindo os neurofisiológicos, os psicossociais e os comportamentais.
No primeiro grupo estão os neurotransmissores liberados com o movimento do corpo, como dopamina, serotonina e norepinefrina, além do BNDF - neurotrofina que funciona como adubo para o crescimento e manutenção dos neurônios. De fato, esse coquetel de substâncias químicas promove prazer, bem-estar e boas condições cerebrais. A redução da inflamação e do estresse oxidativo pelo exercício também tem participação no processo.
No aspecto psicossocial, se sentir capaz e competente são sensações promovidas pelo exercício, melhorando a sua autoestima. Já percebeu como se sente confiante após completar sua corrida? Além disso, a simples distração do treino eliminando pensamentos negativos ruminativos e do prazer derivado dos vínculos sociais são efetivos na melhora do humor.
Seja qual for a modalidade de exercício física praticada, o acompanhamento profissional é essencial (Getty Images)
Já percebeu como algumas pessoas se transformam a partir do exercício? No âmbito comportamental, o exercício pode ser um hábito angular que impacta em outros como alimentação, consumo de álcool e na qualidade do sono, contribuindo para um estilo de vida saudável.
Em coluna anterior destaquei recomendações de atividade física para melhorar a saúde mental. Considerando especialmente depressão, a ciência reforça que é preciso motivação de boa qualidade para se exercitar, em que a pessoa tenha escolhas, se sinta competente e tenha algum prazer na modalidade, com apoio social e supervisão profissional.
Em estudo que comparou ambientes para exercícios, foi verificado que ambientes naturais podem oferecer alívio da ansiedade, proporcionando um espaço físico e mental livre de estressores. Em contraste, a ansiedade pode não ser aliviada por ambientes urbanos movimentados. Para depressão pode ser melhor o inverso: ambientes naturais podem aumentar a sensação de solidão ou aumentar oportunidades para pensamentos ruminativos, enquanto ambientes urbanos podem oferecer uma sensação de conexão ou identidade.
Apesar da efetividade comprovada do exercício para prevenir e tratar depressão, ele não pode ser considerado uma cura para todos os casos. Dependendo da gravidade da doença, um plano de tratamento abrangente com a tríade: medicamentos antidepressivos, psicoterapia e exercícios, pode ser recomendada e a orientação profissional é fundamental.
Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinvile (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify.
Fontes