Nos últimos dias, o litoral norte de São Paulo sofreu com desabamentos e alagamentos em diferentes cidades, após um volume recorde de chuva — em algumas regiões, o volume foi de mais de 600 milímetros em um período de 24 horas. Contudo, o desastre poderia ter sido menor, pois o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) diz ter alertado o governo do estado de São Paulo e a Prefeitura de São Sebastião com dois dias de antecedência sobre o alto risco de deslizamento.
O problema é que o alerta de desastre foi enviado ao governo, mas os moradores relatam que não recebem nenhum tipo de aviso sobre os perigos de desabamento, deslizamento e alagamento — foram enviados apenas alertas sobre chuvas intensas. O aviso da Cemaden descrevia que a região da Vila do Sahy, onde morreram mais de 30 pessoas, estava sob risco.
O Cemaden utiliza uma tecnologia que monitora todo o território nacional, sem interrupção, para identificar com antecedência possíveis desastres naturais. Quando é identificada alguma alteração, o órgão federal avisa outras instituições para atuarem na prevenção de maiores desastres.
“Nós conseguimos fazer a previsão com 48 horas de antecedência, inclusive, dando a localização do desastre”, disse o diretor do Cemaden, Osvaldo Moraes, em entrevista ao G1.
Como funciona a tecnologia que previu a tragédia?
O Projeto de Monitoramento Geodinâmico do Cemaden, iniciado em 2013, utiliza sensores geotécnicos para realizar o monitoramento de deslizamentos em todo o país. Foram instalados terminais nomeados de Estações Totais Robotizadas (ERTs) em encostas de diversas regiões, cobrindo um horizonte de 360 graus e com cobertura de até 2,5 km, a partir de um ponto central no meio de uma área rodeada por encostas.
Sensor de umidade do solo, equipamento usado na prevenção de tragédias pelo CemadenFonte: Cemaden
Com a sincronização das ERTs, o Cemaden acompanha índices meteorológicos e geológicos, com base na movimentação da terra, para enviar alertas sobre o risco de chuvas extremas e deslizamento. Por exemplo, um dos alertas avisou sobre a chuva intensa na cidade de São Sebastião, onde morreram 47 pessoas e estão desaparecidas mais de 50 pessoas — a Defesa Civil aponta um total de 48 mortes, sendo uma em Ubatuba.
A tecnologia das estações é complementada por pluviômetros automáticos e sensores de umidade de solo, que possibilitam o monitoramento geotécnico de dados coletados sobre a quantidade de chuva acumulada e sobre o conteúdo de água no solo. O monitoramento fornece dados em tempo real por meio da Rede Geotécnica de monitoramento in situ de deslocamento de chuva e umidade do solo em encostas urbanas. Assim, os profissionais do Cemaden podem compreender a movimentação das encostas e todos os outros dados necessários para entender sobre situações de riscos e emitir alertas antecipados.
A Defesa Civil do estado afirma que divulgou alertas sobre o risco em redes sociais, na imprensa e por meio de mensagens via SMS para as pessoas cadastradas no sistema. Contudo, as mensagens comentavam apenas sobre chuvas fortes persistentes e não deram a dimensão real do risco de deslizamento.
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