Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Se tem algo que sempre se fala nas rodas de conversa quando o assunto é exercício é CrossFit. Provavelmente você já ouviu um relato empolgado de um praticante ou viu alguém na rede social compartilhar sua rotina de exercícios. Dizem que não precisa perguntar para um praticante se ele faz CrossFit, porque uma hora ou outra, ele vai te contar. Para quem não conhece pode parecer estranho e até perigoso, mas afinal CrossFit lesiona? Como a modalidade envolve as pessoas de modo tão forte?
CrossFit revolucionou o mundo fitness desde sua criação, no início dos anos 2000Fonte: CrossFit
Foi a partir dessas conversas que me interessei em estudar essa tendência fitness, mas com o olhar científico, a partir de diferentes óticas, as quais você vai entender agora e ter outra compreensão desse fenômeno.
Essa tendência revolucionou o mundo fitness desde sua criação, no início dos anos 2000, trazendo muitas pessoas para a atividade física e um estilo de vida ativo. A dinâmica envolvendo diferentes movimentos e exercícios, como de levantamento de peso, ginástica, calistenia, ciclismo, corrida, remo e outros, aliado às características como desafio, afiliação e variação constante nos treinos, fez com que pessoas de diferentes níveis de condicionamento fossem incluídas nos boxes no mundo todo, e isso é possível e seguro.
Qual é a relação entre CrossFit e lesões?
Comecei fazendo uma varredura em toda a literatura científica sobre o tema CrossFit e lesões, motivado por saber se realmente era uma modalidade lesiva, como o conhecimento de senso comum afirmava. Talvez esse tipo de conhecimento forneceu hipóteses para as pesquisas, que mostram um resultado completamente diferente.
Compilando os estudos sobre lesões, não conseguimos afirmar que o CrossFit é altamente lesivo, mas temos os dados abaixo:
- O número de lesões é inferior a diversas modalidades de esportes e de exercícios;
- Os praticantes não estão imunes às lesões, sendo as regiões mais lesionadas: ombros, lombar e joelhos;
- A modalidade é segura para diversas idades, porém supervisão profissional é fundamental.
Por que o CrossFit é um sucesso?
Se você está na dúvida em experimentar devido ao medo, saiba que a ciência dá suporte a esse tipo de exercício. Além disso, é uma boa opção para aquelas pessoas que têm dificuldade na relação com exercícios, já tentaram e desistiram diversas vezes da academia e estão sem esperanças. Descobri isso, quando olhei estudos sob a luz da área da psicologia do exercício:
- A motivação de praticantes de CrossFit é diferenciada, sendo a de melhor qualidade para treinar – composta por prazer, desafio e afiliação, pois há um senso de pertencimento à comunidade. Já percebeu como eles são felizes no que fazem? O compartilhamento dos feitos nos treinos reflete a elevada percepção de competência, o orgulho de si próprio. Isso pode contagiar.
Com acompanhamento adequado, CrossFit é indicado para diferentes públicos de todas as idadesFonte: CrossFit
- Essa motivação peculiar dos “Crossfiteiros” impacta positivamente na adesão e aderência (manutenção) da prática de CrossFit. Porém ainda não se sabe a respeito dos desistentes e suas razões, que existem em todas as modalidades.
- Participantes de CrossFit demonstram alta percepção de esforço, o que em um primeiro olhar pode ser difícil para alguns (inclusive eu), visto que a maioria das pessoas teria prazer no exercício se esse fosse de intensidade moderada, porém o que parece é que existe, provavelmente, uma compensação do aspecto psicológico frente ao fisiológico, no CrossFit. Os benefícios de se sentir desafiado e competente, pertencente a um grupo social e o praticante sendo protagonista no treino fazendo escolhas, alivia o fato do treino de alta intensidade em partes da sessão, gerar desprazer para a maioria das pessoas.
Além disso, o CrossFit faz bem para o cérebro. Descobrimos que o CrossFit aumenta os níveis de um importante adubo cerebral. O BNDF, um fator de crescimento que funciona como um fertilizante que cultiva novos neurônios e fortalece os já existentes.
Mais recentemente, junto com outros pesquisadores, sugerimos um novo nome para a modalidade: Fitness Funcional. Para que tanto a pesquisa quanto a prática não fiquem limitadas à empresa que impulsionou esse tipo de treinamento e possa se consolidar livre de interesses comerciais.
Se você já considerou treinar CrossFit mas ainda possui medo ou preconceitos, livre-se disso e aproveite, você terá a ciência e outras pessoas ao seu lado!
Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinvile (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify.
Fontes