Um anel descoberto ao redor do planeta Quaoar pode mudar tudo o que os astrônomos sabem sobre essas estruturas celestes. Distantes mais de 4 mil quilômetros entre si, o planeta e seu anel desafiam uma lei astrofísica do século 19.
A pesquisa foi liderada pelo professor Bruno Morgado da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e contou com a participação de outros 59 cientistas espalhados por todo o mundo, inclusive da Unesp (Universidade Estadual de Paulista). A descoberta foi publicada na revista científica Nature.
Ilustração mostra o planeta Quaoar e seus anéis (Paris Observatory)
Quaoar é um planeta anão transnetuniano - ou seja, está para além da órbita de Netuno - com raio de apenas 555 quilômetros. Já o anel descoberto está a 4.100 quilômetros de distância do planeta, violando uma regra básica da astronomia, o Limite de Roche.
Essa teoria define como 1.780 quilômetros a distância limite para um planeta ter na sua órbita um satélite natural sólido e íntegro, como uma lua, ou um anel formado por partículas fragmentadas.
A nova descoberta desafia esse limite definido no século 19 pelo astrônomo francês Édouard Roche. Agora, os cientistas devem reexaminar esse limite e as teorias de formação de anéis que orbitam outros corpos celestes.
Não é só Saturno que tem anéis: outros planetas e até asteroides podem ostentar essas estruturas (Fonte: Unplash/NASA)Fonte: Unplash
"Temos os dados que mostram que ele está lá. Mas por que esse material está na forma de um anel? Por que não se juntou em um satélite? Essas são as próximas questões que teremos que responder”, diz o coautor do trabalho e professor da Unesp, Rafael Sfair, em entrevista para a Agência Bori.
O que são corpos transnetunianos?
Antes de 2013, os cientistas não sabiam da existência de anéis em objetos celestes que não fossem planetas. Neste ano, entretanto, o asteroide Chariklo surpreendeu os astrônomos exibindo discos de fragmentos ao seu redor.
Agora, eles foram encontrados em Quaoar, que se soma ao Haumea no grupo de planetas-anões anelados. Ambos também são classificados como transnetunianos, por que estão localizados além da órbita de Netuno, em uma região chamada Cinturão de Kuiper.
Os pesquisadores estão cada vez mais interessados nessa região, repleta de corpos pouco estudados e que podem guardar respostas para muitas perguntas que temos hoje, mas desconhecida devido às grandes distâncias que nos separam.
“Os objetos transnetunianos são resquícios do processo de formação do Sistema Solar. Entender esses objetos ajuda a entender como foi o processo de evolução do Sistema Solar. São objetos primordiais nesse sentido”, diz o professor Sfair.
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