Uma modinha que se tornou popular no ano passado principalmente entre os jovens, o vape, cigarro eletrônico que se vende como inofensivo, mas tem sido proibido em vários países, está voltando às redes sociais. Desta vez sob a forma de um produto de bem-estar, para vaporizar vitaminas, hormônios e óleos essenciais, mas com a tecnologia de sempre.
O dispositivo, cuja venda foi proibida no Brasil pela Anvisa, funciona através da energia de um sistema de bateria recarregável (ou de uso único) para aquecer o e-liquid (a essência ou "juice"), que agora vem como vitaminas, hormônios ou óleos. Aquecido, esse líquido se transforma em vapor que é inalado e absorvido pelos pulmões.
E é nessa forma de absorção que grande parte dos profissionais de saúde se apoia para lançar um alerta. Sem entrar no mérito da qualidade dos aditivos químicos heterogêneos e sintéticos que têm sido adicionados ao pod system do aparelho, os nossos pulmões são projetados para processar o oxigênio, mas não produtos químicos complexos, afirmam em comunicado os especialistas da FDA, agência reguladora dos Estados Unidos.
O que prometem os vapes "do bem"?
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Comercializados em cartuchos finos dentro de embalagens sofisticadas e com marcas atraentes, os agora chamados vaporizadores de bem-estar têm sido vendidos no mundo inteiro pela internet. Seu branding prega que os vapes são uma alternativa melhor às incômodas injeções e pílulas, além de combater, por si, o TDAH e tratar ansiedade ou depressão.
Tendo como foco os produtos da indústria nutracêutica (baseada em produtos naturais), além do aumento de produtos medicinais à base de canabidiol, a tecnologia do vaping propõe garantir aos seus consumidores fornecer suas necessidades nutricionais básicas através de coquetéis de vitaminas.
Assim, embaladas pela perspectiva de lucros, as empresas têm diferentes discursos: enquanto uma apregoa que algumas baforadas do seu vape entregam aos pulmões dez vezes a dose diária recomendada de vitamina B12, outras marcas vaporizam coquetéis de nutrientes essenciais (vitaminas A, C ou D), aminoácidos, ômega 3 tg e colágeno.
O que dizem os cientistas?
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A grande preocupação dos cientistas é que as pesquisas citadas pela indústria do vaping para apoiar suas alegações ou são apresentadas fora do contexto (com destaque apenas para o nutriente e não nos riscos da inalação) ou com base em literatura formulada nas décadas de 1950 e 1960, quando os efeitos maléficos de fumar começavam a ser estudados cientificamente.
“Para mim, [usar vitaminas e nutrientes] é uma jogada de marketing para vender este produto e torná-lo mais saudável. Os consumidores associam as vitaminas à saúde”, afirmou à Scientific American, a epidemiologista nutricional Regan Bailey, da Universidade de Purdue, nos EUA.
Embora inalar vitaminas seja “teoricamente possível”, reconhece Guenther Hochhaus, um farmacologista da Universidade da Flórida, à publicação americana. A questão é por que adultos saudáveis, que podem obter suas vitaminas e aminoácidos com alimentação, iriam querer começar a fumá-los?