Mistura de sentidos: a sinestesia é uma doença?

A sinestesia é a condição na qual a informação destinada a estimular um sentido de uma pessoa, influencia em vários outros. Essa característica pouco usual pode levar muita gente a confundir a condição com uma doença.

Trata-se, porém, de um dos fenômenos neurológicos mais misteriosos e interessantes conhecidos atualmente. Ficou interessado? Saiba mais a seguir sobre essa forma diferente de perceber o mundo.

Conexão entre neurônios (Fonte: Shutterstock)Fonte:  Shutterstock 

Afinal, como os sinestetas enxergam o mundo?

Sinestetas podem ver cores associadas a diferentes nomes ou letras, podem sentir um sabor específico ao ver determinada forma, ouvir sons particulares quando tocam objetos com certas texturas, entre muitas outras possibilidades.

Normalmente os estímulos ambientais captados pelos nossos órgãos dos sentidos – olhos, ouvidos, pele, língua e nariz – são transmitidos para o cérebro por rotas paralelas umas às outras. Assim, cada sentido tem suas próprias vias.

A sinestesia é uma alteração na percepção dos sentidos (Fonte: Shutterstock)Fonte:  Shutterstock 

Já no sistema nervoso de pessoas com sinestesia, essas rotas se cruzam e acabam estimulando áreas diferentes do cérebro, que vai interpretar esses sinais usando diversos sentidos além do original.

Diferentemente de estudos sobre o universo e a gravidade, estudos científicos sobre o assunto são recentes e ainda há muito que não sabemos sobre essa característica.

Quantas pessoas no mundo possuem sinestesia?

Estima-se que entre 2% e 4% da população mundial possuam sinestesia. O número pode ser ainda maior já que não há testes exatos para confirmar a presença da habilidade.

Além disso, algumas pessoas não percebem que a possuem. Por não ser um tema tão debatido, diversos sinestetas acreditam que todas as outras pessoas percebem o mundo da mesma forma que eles.

A sinestesia é uma característica rara: 4 em cada 100 pessoas possuem (Fonte: Shutterstock)Fonte:  Shutterstock 

Apesar de ser bastante rara, a sinestesia é perfeitamente normal. Assim como alguns indivíduos têm olhos verdes ou castanhos, pele com sardas ou sem, uma pessoa pode nascer com as vias neuronais conectadas de uma forma ou de outra.

A confusão causada pela percepção simultânea de mais de um sentido, entretanto, pode ser inconveniente para alguns. Um sabor ou cheiro desagradável pode ser desencadeado por um estímulo e gerar incômodo. O excesso de cores das palavras e letras em um livro podem atrapalhar a leitura.

Crianças sinestetas podem ter dificuldade na leitura (Fonte: Shutterstock)Fonte:  Shutterstock 

Entretanto, a maioria dos sinestetas entendem essa sua habilidade como um presente e não como um fardo. De modo geral, seus sentidos não atrapalham seu cotidiano. É uma característica com a qual nasceram e aprenderam a lidar ao longo da vida.

Quais são os tipos de sinestesia?

Há vários tipos de sinestesia, cada um com seus atributos particulares produzidos pelas diferentes combinações possíveis de sentidos. Especialistas apontam que pode haver entre 35 e 70 diferentes tipos.

Entre os tipos mais comuns estão as pessoas que veem letras e números como cores e sons como cores ou formas. Essa riqueza de características torna difícil encontrar sinestetas.

Letras, números ou palavras diferentes podem ter cores diferentesFonte:  Shutterstock 

Justamente por não se tratar de uma doença, não existe uma cura e nem mesmo é preciso buscar por uma. Também não se fala em sintomas de sinestesia. Porém, há sinais comuns à maioria pessoas com sinestesia:

• Não pode ser controlada, é uma reação involuntária;
• As associações são permanentes, uma cor ou cheiro associado a uma letra, por exemplo, será o mesmo ao longo do tempo;
• Geralmente começam a desenvolver a habilidade já na infância;
• Encontram dificuldade em explicar suas percepções para outras pessoas.

Além disso, é comum sinestetas terem facilidade com memorização, devido às associações sinestésicas que fazem e os ajudam a guardar informações como números de telefone e senhas.

Sinestetas podem ter boa memoria (Fonte: Shutterstock)Fonte:  Shutterstock 

Os estudos sobre o tema ainda não puderam dizer com exatidão a causa dessa habilidade. O que sabemos até agora é que é uma característica congênita, as pessoas já nascem com ela. Por ser mais comum em algumas famílias acredita-se ser uma característica hereditária.

Já foram identificados alguns genes ligados ao fenótipo, em pelo menos 3 cromossomos diferentes, nenhum desses sendo os cromossomos sexuais. Isso mostra que a habilidade não faz diferença entre homens ou mulheres.

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Conhecemos alguns genes associados com a sinestesia, o que não se sabe sobre a causa é como esses genes trabalham para ligar, desligar ou moldar a forma como a condição se apresenta em cada pessoa.

Com os avanços dos estudos e nossos conhecimentos sobre o assunto, também entendemos mais sobre o funcionamento do próprio cérebro e da mente humana. Avanços em como a percepção de luz afeta o nosso cérebro podem significar passos importantes para a ciência e para a humanidade como um todo.

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