A evidência de que um dos primeiros sinais da doença de Alzheimer (DA) é a perda de olfato levou um grupo de cientistas da Universidade do Colorado Anschutz, em Aurora nos Estados Unidos, a investigar a relação entre infecção viral e sua inflamação com a desregulação da mielinização do sistema olfativo que pode levar à interrupção da função do hipocampo.
De acordo com o primeiro autor do estudo, Andrew Bubak, professor na divisão de Neurologia da Anschutz, "Toda a via olfativa vai para o hipocampo. Se você diminuir a sinalização ao longo desse caminho, receberá menos sinalização para o hipocampo. Se você não usa, você perde.”
Em outras palavras, vírus comuns podem inflamar e interromper as conexões entre nosso sistema olfativo e aquela importante parte do cérebro ligada à memória e ao aprendizado, um gap que poderia teoricamente acelerar o aparecimento da DA no cérebro humano, segundo o estudo. Se a hipótese for comprovada, isso abre um campo para novas terapias capazes de detectar prematuramente a doença degenerativa.
Como os pesquisadores descobriram a relação entre nariz e hipocampo?
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Publicada na terça-feira (13) na revista científica Neurobiology of Aging, a pesquisa se concentrou no trato olfativo, no bulbo olfativo e no hipocampo, a área cerebral que é a sede da memória e do aprendizado humanos. Para isso, foram examinados o RNA mensageiro do tecido cerebral de seis indivíduos da Colômbia com doença de Alzheimer familiar (FAD).
Ao comparar essas amostras com os tecidos de um grupo de controle, sem a demência, os pesquisadores detectaram assinaturas de infecção viral nos bulbos olfativos do grupo FAD, além de inflamação no trato olfatório que leva informações para o hipocampo, com traços de mielinização alterada no trato olfativo.
Os achados comprovam a hipótese de que uma combinação de infecções virais, inflamações e desmielinização do sistema olfatório podem interromper a função do hipocampo e acelerar o Alzheimer.
ARTIGO - Neurobiology of Aging - DOI: 10.1016/j.neurobiolaging.2022.12.004.