Pesquisadores brasileiros descreveram detalhes inéditos da anatomia de um pterossauro, a partir da análise de fósseis encontrados no Paraná. Chamado de Caiuajara dobruskii, o extinto réptil voador com mais de 2 metros de envergadura viveu há 80 milhões de anos, no Cretáceo, na região onde hoje se encontra a cidade de Cruzeiro do Oeste.
Os restos mortais de dinossauros foram recuperados em 2014 através de escavações no sítio conhecido como Cemitério dos Pterossauros. Na época, o local que atualmente serve para a condução de importantes estudos científicos era um grande deserto, denominado Grupo Caiuá, em que a espécie convivia com vários outros vertebrados em torno de oásis.
Reconstituição do pterossauro brasileiro, em exibição no Museu da Terra e da Vida (em Mafra, Santa Catarina)Fonte: Universidade do Contestado/Museu da Terra e da Vida/Reprodução
“A qualidade do material preservado juntamente com a quantidade de fósseis pertencentes a Caiuajara nos proporciona uma rara possibilidade de entender como esses animais se desenvolviam ao longo da vida”, destacou Lucas Canejo, líder do trabalho e pesquisador do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, em comunicado.
Em adição, participaram da pesquisa membros do Centro de Paleontologia da Universidade do Contestado (Mafra, Santa Catarina), em parceria com o Institut Català de Paleontologia Miquel Crusafont (Barcelona, Espanha) e com o Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri (Crato, Ceará).
Ao longo de 8 anos, todo o material coletado em campo passou por uma série de tratamento para revelar as características anatômicas do espécime. Com a análise dos fósseis, compostos principalmente por ossos que formavam o crânio, foi possível observar um dimorfismo sexual, que consiste na diferenciação de machos e fêmeas.
Fósseis do crânio do Caiuajara dobruskii, encontrado no Cemitério dos PterossaurosFonte: Universidade do Contestado/Museu da Terra e da Vida/Reprodução
“[A descoberta] revela informações que normalmente não teríamos acesso em grupos extintos, uma vez que na grande maioria dos casos os indivíduos são resgatados isolados, se tornando difícil ou até mesmo impossível compararmos vários espécimes de uma mesma espécie”, explicou Canejo.
Além do Caiuajara dobruskii, o estudo identificou no mesmo local um tipo de lagarto (Gueragama sulamericana), duas espécies de dinossauros (Vespersaurus paranaense e Berthasaura leopoldinae) e mais uma espécie de pterossauro (Keresdrakon vilsoni). Os exemplares do pterossauro em questão estão em exposição no Museu da Terra e da Vida, localizado no Centro de Paleontologia da Universidade do Contestado, campus de Mafra.
Desde as escavações de 2014, a grande quantidade de animais descritos e a relevância do assunto no contexto da evolução de espécies ressaltam a importância no apoio a instituições científicas e pesquisadores no Brasil, esfera que nos últimos anos sofreu com cortes e contingenciamentos de recursos.
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