O conceito de Permafrost se refere a qualquer solo que permanece congelado por pelo menos 2 anos consecutivos, mas o fenômeno pode se estender por até milhares de anos. Essa camada cobre grandes áreas da Terra e é mais comum em regiões polares. Diante disso, a busca pela compreensão aprofundada do assunto tem ampliado o debate sobre crises oriundas dos impactos climáticos que esse degelo imprime no futuro do planeta.
Explicando melhor, o permafrost é caracterizado pela combinação de solo, rochas e sedimentos, mantidos juntos pelo gelo. Sua espessura varia de 1 metro até 1 quilômetro, em áreas circumpolares, profundidade que diminui na medida em que ocorre em latitudes mais baixas, podendo ser encontrado tanto em terra quanto abaixo do fundo oceânico.
Permafrost é a camada congelada do solo, mais comum em regiões polaresFonte: Fonte: NASA/Reprodução
Esse solo congelado fica submerso em cerca de 25% ao longo de todo o Hemisfério Norte, distribuído principalmente na Groenlândia, Alasca, Canadá, China, Rússia e em outras partes da Europa Oriental. Já no Hemisfério Sul, o permafrost é mais limitado em razão da menor extensão de terra, existindo abaixo da Antártica e em regiões montanhosas, como nos Andes na América do Sul e nos Alpes sulinos da Nova Zelândia.
No entanto, toda essa dimensão que geralmente permanece “oculta” perante nossos olhos está em risco. O aquecimento global leva ao degelo do permafrost, situação que ameaça áreas em que sua cobertura é maior, inclusive devido ao aumento do nível do mar. Esse é o caso do Alasca, onde quase 85% do estado estadunidense fica sobre a camada congelada do solo, e que já enfrenta consequências do descongelamento.
O permafrost cobre grande áreas da Terra. As formas poligonais na neve, vistas em partes do Alasca, é um sinal que a camada de gelo está derretendoFonte: Fonte: NASA/Reprodução
A camada chega a ser mais dura do que o concreto, quando congelada. Seu derretimento promove processos erosivos que remodelam a paisagem, fazendo com que habitats, casas, estradas, oleodutos e outras infraestruturas entrem em colapso, deslocando aldeias inteiras.
Nos últimos anos, comunidades indígenas que vivem na região do Ártico tiveram que ser realocadas, após constantes deslizamentos de terra e avanço da água, principalmente ao longo de áreas costeiras. Isso faz com que tragédias sejam cada vez mais observadas, sem falar das perdas de vidas, como no norte da Rússia, onde prédios estão desmoronando, e no Alasca, com estradas se transformando em uma espécie de montanha-russa.
O degelo do permafrost ameaça a integridade de construções, como estradasFonte: Fonte: Natural Resources Defense Council/Reprodução
No Canadá, o desaparecimento do permafrost leva ao investimento de dezenas de milhões de dólares todos os anos para conter danos. Em razão de sistemas naturais e sociais afetados, órgãos especializados alertam sobre a necessidade de o tema ganhar mais atenção, com políticas voltadas para o enfrentamento das mudanças climáticas. Do contrário, gastos públicos de contenção devem ser cada vez maiores.
À medida que a estrutura de um solo fica mais fragilizada, sedimentos são despejados em cursos de água. Dessa forma, fluxos de rios e córregos são alterados, e a qualidade da água pode impactar toda a vida selvagem aquática e o abastecimento de água nas cidades.
Vale também apontar que atividades extrativistas de minerais e petróleo em áreas de permafrost podem vazar para a superfície materiais tóxicos então confinados no gelo. O permafrost do Ártico possui uma reserva natural de mercúrio, que em caso de liberação pode se espalhar pela água ou pelo ar, dificultando o acesso à água potável, por exemplo.
Além disso, o degelo do permafrost pode liberar gases de efeito estufa e microrganismos potencialmente perigosos que ficaram armazenados no gelo ao longo de milhares de anos. É sabido que bactérias e vírus de tempos geológicos passados podem ficar adormecidos no permafrost, tornando possível a volta de patógenos e novos surtos de doenças que possam ameaçar a saúde humana.
Descobertas científicas feitas no permafrost
Recentemente, pesquisadores da Universidade de Aix-Marselha, na França, reativaram um grupo de vírus de quase 50 mil anos, encontrado a partir do derretimento do permafrost na Sibéria. O objetivo é estudar antigos microrganismos que podem “voltar à vida” em caso de escaparem de seus confinamentos gelados.
Embora esse não seja considerado um tipo perigoso, eles alertaram que outros vírus adormecidos, não tão inofensivos, em diferentes solos antigos também conseguem sobreviver por eras, e chegar à superfície por conta de efeitos do aquecimento global. No caso de contato com humanos, isso pode inclusive dar origem a uma epidemia ainda não conhecida.
Cientistas também encontraram um conjunto de DNA de 2 milhões de anos na Groenlândia, fazendo deste o material genético conhecido mais antigo do mundo. A análise revelou que esse ecossistema do passado enfrentou mudanças climáticas extremas, cujas espécies da época tiveram que se adaptar de um clima glacial para um período mais quente.
A ciência do permafrost no contexto das mudanças climáticas
A expectativa dos especialistas é de que a engenharia genética consiga imitar esse sistema de adaptação para evitar um cenário de extinção de algumas espécies, resultado dos aumentos das temperaturas. Todos esses apontamentos fizeram com com que o degelo do permafrost fosse classificado, em 2019, pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (PNUMA), como uma das maiores questões de preocupação ambiental.
Assim, a preservação e o monitoramento do permafrost são fundamentais para o tratamento das mudanças climáticas. Para isso, existem projetos e satélites dedicados para essa função, como a missão Soil Moisture Active Passive, da NASA, que verifica onde e com que rapidez o permafrost está descongelando.
Categorias