*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Em geral, quando se fala da Teoria do Big Bang, é comum pensarmos que ela explica como o universo surgiu. Isso não é verdade, pelo menos por enquanto. A Teoria do Big Bang trata simplesmente da tentativa, bem-sucedida até o momento, de entender o estado atual do universo e o motivo pelo qual ele se encontra de tal forma.
Antes de entender o que ela diz, é importante que não reste dúvida sobre o significado da palavra “teoria”. Em nosso cotidiano, essa palavra é utilizada com sentido semelhante ao de uma mera especulação ou um achismo. Por exemplo, se alguém te diz que leu na internet uma “teoria” de que o vilão de um determinado filme era, na verdade, o protagonista, o significado da palavra é completamente diferente do que é utilizado na Ciência. Para apresentar uma especulação, os cientistas utilizam a palavra “hipótese”.
Em Ciência, a palavra “teoria” representa a melhor explicação atual para algum aspecto da Natureza. Essa explicação pode englobar, fatos, leis e hipóteses que já foram testadas e comprovadas. Ao contrário do que o senso comum pode dizer, uma teoria científica é algo mais amplo do que uma lei. Isto é, a Teoria da Relatividade, por exemplo, é capaz de explicar todos os casos que a Lei da Gravitação Universal prevê e, muitos casos em que essa lei simplesmente não funciona. Sim, existem casos em que uma lei científica pode não descrever a natureza de maneira precisa.
Representação artística do que pode ter sido o Big BangFonte: Shutterstock
Ao analisarmos a Teoria do Big Bang, em particular, ela nos diz que o nosso universo passou, e ainda passa, por um acelerado processo de crescimento. É importante notar que esse crescimento do universo não é como uma explosão, cuja tradução literal do inglês é a palavra “Bang”, fato que não ajuda muito a compreensão do fenômeno.
A palavra explosão passa a ideia de que existe um ponto central que originou esse crescimento, porém, o crescimento do universo é o crescimento do espaço, que é infinito, sobre si mesmo e, portanto, não faz sentido pensarmos em um ponto central ou podemos entender que todos os pontos são igualmente centrais como já discutimos aqui em outro texto.
Por ser uma teoria científica, o Big Bang possui diversas evidências que o comprovam. Para citar um exemplo, temos o afastamento de galáxias distantes. Na década de 1920, o astrônomo Edwin Hubble, observou que nosso universo está expandindo, utilizando a intensidade do brilho de algumas estrelas e galáxias para comprovar isto. Essa observação possibilitou o seguinte pensamento: dado que o universo está se expandindo, se fosse possível observar o tempo passando no sentido contrário, veríamos uma contração do espaço fazendo com que toda a matéria que existe no universo se concentrasse em um único ponto.
Embasados por essa teoria, foi possível entender e explicar com precisão matemática que essa expansão acelerada do universo ocorreu há mais de 14 bilhões de anos e como, a partir do momento inicial, o universo se formou da maneira como o conhecemos com planetas, estrelas e galáxias. Tudo isso representa o enorme sucesso, do ponto de vista científico, dessa teoria.
Entretanto, o que fez com que toda a matéria do universo se encontrasse inicialmente concentrada em um único ponto? Não sabemos. Como se comportam as partículas que formam a matéria e os átomos em uma situação tão extrema? Não sabemos. O que aconteceu antes do Big Bang? Não sabemos. Sobre esses questionamentos, o fato de a Ciência não possuir respostas pode trazer um incômodo inicial, mas é justamente esse incômodo que faz com que continuemos buscando as respostas que não temos. Ainda.
Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou
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