Cientistas encontraram a evidência mais antiga do uso controlado de fogo para cozinhar alimentos. A descoberta foi feita após a análise de restos de um peixe encontrado em um sítio arqueológico em Israel, os quais apresentaram sinais de cozimento por humanos pré-históricos, há 780 mil anos — 600 mil anos antes da então maioria dos registros conhecidos, atribuídos ao homo sapiens.
O trabalho foi publicado na revista científica Nature Ecology & Evolution e representa uma peça importante na reconstrução dos primeiros passos e tradições dos hominídeos primitivos. No caso, foram identificados no local dentes faríngeos, usados para triturar alimentos duros, pertencentes a peixes da família das carpas.
O estudo da estrutura que forma o esmalte dentário, cujo tamanho aumenta com a exposição ao calor, mostrou que esses restos foram expostos a temperaturas entre 200 e 500 graus Celsius — prova de que o fogo era controlado. Isso porque se o peixe tivesse sido queimado por um eventual incêndio espontâneo, ele apresentaria temperaturas bem mais altas.
Pesquisa revela a evidência mais antiga do uso controlado de fogo para cozinhar alimentosFonte: Shutterstock
“A grande quantidade de restos de peixes encontrados no local prova seu consumo frequente pelos primeiros humanos, que desenvolveram técnicas especiais de culinária. A descoberta demonstra não apenas a importância dos habitats de água doce e dos peixes para o sustento da comunidade, mas também ilustra a capacidade de controlar o fogo para cozinhar alimentos e sua compreensão dos benefícios de cozinhar peixes antes do consumo”, escreveram os autores.
“Isso marca um avanço evolutivo significativo, pois forneceu um meio adicional para otimizar o uso dos recursos alimentares disponíveis. É até possível que o cozimento não se limitasse a peixes, mas também incluísse vários tipos de animais e plantas”, adicionaram.
Segundo a pesquisa, o consumo de alimentos cozidos reduz a energia corporal necessária para a digestão, o que teria permitido o desenvolvimento de outros sistemas físicos naquela população. Além disso, a abundância de peixes na região fornecia uma fonte constante de nutrição, reduzindo a necessidade de migração em busca de comida.
Esse cenário pode ter proporcionado mais tempo livre para os humanos primitivos criarem diferentes sistemas sociais e comportamentais. Para os cientistas, “comer peixes é o que nos tornou humanos”, em razão da presença de nutrientes fundamentais para o desenvolvimento do cérebro humano.