Uma equipe liderada por pesquisadores da Universidade Estadual da Flórida (FSU) conduziu um estudo com mais de sete mil pessoas, no qual concluíram que a pandemia da covid-19 alterou a trajetória da personalidade das pessoas nos EUA, principalmente dos adultos mais jovens. Publicado quarta-feira (28) na revista PLoS ONE, o trabalho utilizou o modelo dos Cinco Grandes Fatores da personalidade.
Definidos pelo método lexical, o que significa que são baseados em uma análise linguística, esses cinco traços (neuroticismo, extroversão, abertura, amabilidade, consciência) eram até então "considerados relativamente impermeáveis às demandas ambientais na idade adulta", de acordo com o estudo.
E, embora estudos anteriores não tenham conseguido associar eventos estressantes coletivos – como terremotos e furacões – a mudanças de personalidade, a pandemia do coronavírus, pela sua abrangência global, foi considerada uma oportunidade ímpar para testar essa hipótese.
Como foi feito o estudo?
No trabalho, os pesquisadores utilizaram avaliações longitudinais de personalidade de 7.109 pessoas inscritas no estudo online Understanding America Study, um painel de famílias hospedado pela Universidade do Sul da Califórnia (SCU). Foram analisadas 18.623 avaliações (cerca de 2,62 por participante). Os participantes tinham idades entre 18 e 109 anos e 41,2% eram do sexo masculino.
Para detectar possíveis mudanças de personalidade, os pesquisadores compararam medições feitas antes da pandemia (entre maio de 2014 e fevereiro de 2020), no primeiro ano (de março a dezembro de 2020) e durante o declínio (2021 - 2022),
Fonte: Andrea Piacquadio/Pexels/Reprodução.Fonte: Andrea Piacquadio/Pexels
O que o estudo descobriu?
Como ocorreu em estudos prévios, houve poucas mudanças nos traços de personalidade observados no período pré-pandemia, mas, a partir de 2021, ocorreram declínios importantes na extroversão, abertura, amabilidade e consciência quando comparados aos fatores de personalidade avaliados antes da pandemia.
Essas mudanças foram moderadas basicamente por idade, mas não por raça ou nível de educação formal. Assim, alguns adultos jovens demonstraram traços de maturidade interrompida, uma característica de aumento do neuroticismo, associados a redução da amabilidade e consciência. O grupo de adultos mais velhos não mostrou mudanças estatisticamente relevantes.
Se essas mudanças forem duradouras, concluem os autores, isso sugere que eventos estressantes que envolvam toda a população são capazes de desviar a trajetória da personalidade, principalmente em adultos jovens.
ARTIGO - PLoS ONE - DOI: 10.1371/journal.pone.0274542.
Fontes