Dormir mal pode ser sintoma de esquizofrenia; entenda

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*Este texto foi escrito com base em informações de agências e autoridades sanitárias, hospitais e especialistas em saúde. Se você ou alguém que você conhece possui algum dos sintomas descritos aqui, nossa sugestão é que um médico seja procurado o quanto antes.

Você pode não ser ou conhecer alguém com esquizofrenia, mas a condição de saúde mental atinge quase 1% da população mundial, segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), e já foi bastante retratada na ficção. O que muita gente não conhece é a relação da doença com o sono — e que um dos primeiros sintomas da condição é a dificuldade para dormir.

Caracterizada por alucinações, delírios e pensamento muito desorganizado, a esquizofrenia geralmente aparece quando a pessoa está na casa dos 20 anos, embora possa ocorrer em outras fases da vida.

Dificuldade para dormir pode estar entre manifestações da esquizofreniaDificuldade para dormir pode estar entre manifestações da esquizofreniaFonte:  Shutterstock 

Entenda como o sono — e a falta dele — se relaciona intimamente com a ocorrência da doença. Estudos também indicam que o padrão de sono de uma pessoa pode indicar predisposição genética ao desenvolvimento da condição. Confira a seguir.

Esquizofrenia e qualidade do sono

Um dos primeiros sintomas da esquizofrenia pode ser a interrupção do padrão habitual de sono. O portador da doença pode:

  • começar a ficar acordado a noite toda;
  • se tornar incapaz de dormir por mais de uma hora ou duas de cada vez;
  • de repente tem problemas para adormecer no horário que adormecia antes.

Este sinal precoce de esquizofrenia é chamado de interrupção do ritmo circadiano — o nome que é dado à variação nas funções biológicas de diversos seres vivos, que se repete regularmente a cada 24 horas, aproximadamente.

As alterações no padrão de sono geralmente ocorrem antes de quaisquer delírios, alucinações ou outros sintomas mais perceptíveis. Como corpo e cérebro precisam do sono para ter uma função saudável, a falta dele pode desencadear ou aumentar sintomas de condições de saúde mental, incluindo a esquizofrenia.

Sintomas agravados pela falta de sono

A falta de sono pode enfraquecer o efeito de medicamentos e de planos de tratamento, podendo inclusive causar recaída e a necessidade de um novo modelo de tratamento.

Distúrbios do sono podem prejudicar a saúde físicaDistúrbios do sono podem prejudicar a saúde físicaFonte:  Shutterstock 

Os sintomas de esquizofrenia que podem ser agravados pela falta de sono são:

  • Pensamento desorganizado;
  • Dificuldades de memória;
  • Dificuldade de concentração;
  • Dificuldade em expressar pensamentos;
  • Dificuldade em prestar atenção;
  • Alucinações;
  • Delírios;
  • Raiva, tristeza ou outras emoções fora do contexto comum.

Os distúrbios do sono também podem afetar a saúde física do paciente e levar a complicações como ganho de peso, pressão alta, enfraquecimento do sistema imunológico e aumento do risco de diabetes.

Distúrbios do sono comuns em pessoas com esquizofrenia

Insônia

A insônia é caracterizada pela dificuldade em dormir, de forma contínua, por pelo menos 3 noites por semana. Além dos fatores externos comuns, como estresse, cafeína ou ambientais, pessoas com esquizofrenia desenvolvem insônia devido a receptores de dopamina hiperativos no cérebro.

A substância química pode afetar seu humor, memória, coordenação e outras funções importantes e precisa estar no nível certo para que o corpo funcione corretamente. A alta atividade de dopamina dificulta controlar a insônia e ter um sono reparador nas pessoas com esquizofrenia.

Apneia obstrutiva do sono

A apneia obstrutiva do sono (AOS) ocorre quando as vias aéreas ficam bloqueadas enquanto alguém dorme, causando ronco, boca seca, sono ruim e fadiga. Uma revisão de estudos de 2016 indicou que cerca de 15% das pessoas com esquizofrenia já experimentam AOS.

Um estudo de 2017 sugeriu que o fato pode ocorrer devido ao ganho de peso causado por medicamentos para esquizofrenia, já que a obesidade é um fator de risco para desenvolver apneia.

Síndrome das pernas inquietas (SPI) e DMPM

De novo, a vilã é a dopamina. Pessoas com esquizofrenia geralmente têm um desejo incontrolável de mover as pernas que piora à noite (SPI), junto com distúrbio de movimento periódico dos membros (DMPM) - caracterizado por cãibra ou espasmos nas pernas.

Como esquizofrenia e SPI estão ligadas a altos níveis de dopamina, a conexão é considerada por especialistas como motivo pelo qual a síndrome é comum entre pessoas com esquizofrenia.

Distúrbios do ritmo circadiano

Segundo um estudo de 2017, é comum que pessoas com várias condições de saúde mental sofram de distúrbios do ritmo circadiano. Isso pode fazê-las dormir demais ou muito pouco, não conseguir dormir por mais do que um curto período ou manter uma rotina diária de sono e vigília.

Narcolepsia

A condição neurológica é caracterizada por muito cansaço durante o dia, dificultando ao portador se manter acordado. Um estudo de 2016 encontrou evidências de ligação entre esquizofrenia e narcolepsia e algumas pesquisas mostram uma sobreposição dos sintomas de ambas as condições, como alucinações. Mas as hipóteses ainda precisam ser estudadas mais a fundo.

Síndrome do comer noturno (SCN)

Caracterizada por fome excessiva durante a noite, a SCN faz com que o portador coma à noite e não sinta fome durante o dia. Um estudo de 2021 sugeriu que pessoas com esquizofrenia podem ter maior risco de desenvolver SCN — principalmente as que estão acima do peso ou obesas ou que têm insônia.

Causas genéticas

Uma revisão científica realizada em 2020 sugeriu que as mutações genéticas que podem causar esquizofrenia são também responsáveis por interrupções no ritmo circadiano. Outro estudo genético publicado em junho deste ano sobre o tema sugeriu que o sono pode ser um potencial alvo terapêutico para tratar a condição.

Artigo: BMC Psychiatry - https://doi.org/10.1186/s12888-022-03946-8.

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