Um setor responsável por 7% das emissões anuais de gases de efeito estufa do planeta – o de fabricação de cimento Portland – pode, de uma hora para outra, se tornar neutro e até mesmo negativo em carbono. É o que promete uma equipe de cientistas, liderada pela Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, após descobrir uma forma de retirar o dióxido do carbono do ar, com a ajuda de microalgas.
O resultado do processo é um cimento sustentável, produzido a partir de calcário biogênico (ou seja, um material feito a partir de organismos vivos). Em vez da tradicional queima de calcário e argila em um forno, os pesquisadores decidiram cultivar microalgas chamadas cocolitóforos, também conhecidas como fitoplânctons calcificadores, pois são capazes de criar depósitos de carbonato de cálcio durante a fotossíntese.
E, o que é mais impressionante, ao contrário das estruturas de calcário natural que podem levar milhões de anos para se formar nos oceanos, essa versão biogênica de cimento produzida por cocolitóforos pode ocorrer em tempo real.
Como surgiu a ideia de fazer cimento de algas?
O insight para a invenção do cimento biogênico surgiu na mente do professor Will Srubar, da CU Boulder, em 2017, quando mergulhava na Tailândia, onde passava sua lua de mel. Sob a água, o engenheiro ambiental encantou-se com as estruturas de carbonato de cálcio construídas de forma natural ao redor dos recifes de coral. "Se a natureza pode cultivar calcário, por que nós não podemos? – teria perguntado na época.
Ao retornar, Srubar passou a produzir com sua equipe grandes quantidades de carbonato de cálcio, usando apenas luz solar, água do mar, dióxido de carbono dissolvido na água e os cocolitóforos. A estimativa dos cientistas é de que cerca de 800 mil hectares de lagoas abertas (0,5% da área de terra nos EUA) poderiam produzir todo o cimento de que o país precisa hoje.
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