Um estudo publicado na quarta-feira (15), na revista Nature, pode ter desvendado um dos maiores mistérios da Arqueologia: a origem da pandemia medieval de Peste Negra, ou peste bubônica, (1346-1353), doença que pode ter matado quase 6o% da população da Eurásia da época.
Na pesquisa, uma equipe internacional analisou DNA antigo de restos humanos, além de dados históricos e arqueológicos de dois cemitérios trecentistas com a inscrição “pestilência”.
Causado pela bactéria Yersinia pestis, o surto de peste bubônica conhecido como Peste Negra foi a onda inicial de uma pandemia devastadora – conhecida como “segunda pandemia da peste” – que durou quase 500 anos, sendo reconhecida como uma das maiores calamidades da história humana.
Embora intensa pesquisa multidisciplinar tenha se debruçado sobre o assunto, a exata origem geográfica da catástrofe mundial ainda permanece incerta até os dias atuais. “É como encontrar o lugar onde todas as cepas se juntam, como no coronavírus, onde temos Alpha, Delta, Omicron, todas provenientes dessa cepa em Wuhan”, compara Johannes Krause, paleogeneticista do Instituto Max Planck, que coliderou o estudo.
Como os cientistas comprovaram a origem da Peste Negra?
Fotos das lápides pesquisadas. (Fonte: Spyrou et al./Nature/Divulgação.)Fonte: Spyrou et al./Nature
Para investigar possíveis indícios da origem da segunda pandemia da peste, os cientistas investigaram os cemitérios de Kara-Djigach e Burana, localizados no vale de Chüy, perto do lago Issyk-Kul, no atual Quirguistão. Esses locais constituem uma evidência arqueológica amplamente debatida, e podem abrigar vítimas de uma epidemia do século XIV, conforme lápides datadas de 1338-1339, indicando "pestilência" como causa mortis.
A equipe exumou os restos mortais de sete indivíduos em ambos os cemitérios e realizou exames de DNA no material. Cruzando dados de evidências ecológicas e históricas com essas amostras genéticas, os cientistas apuraram o envolvimento da Y. pestis no evento epidêmico analisado. Dois genomas antigos da bactéria, derivados de uma única cepa, foram identificados como o antecessor comum das variantes da pandemia.
A comprovação das hipóteses foi feita através da comparação da cepa antiga recuperada com as cepas modernas, hoje encontradas em reservatórios de peste ao redor das montanhas Tian Shan, fronteira natural entre o Quirguistão e a China. Para o autor sênior do estudo, Johannes Krause, "isso aponta para uma origem do ancestral da Peste Negra na Ásia Central”.
ARTIGO Nature - DOI: 10.1038/s41586-022-04800-3.
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