Tiranossauro, Triceratops, Velociraptor, Estegossauro. Todo entusiasta de dinossauros já ouviu falar de pelo menos uma dessas espécies. Mas esses nomes podem parecer estranhos para quem não está acostumado.
Se falamos então do Piatnitzkysaurus floresi ou do Dracorex hogwartsia, a situação pode ficar ainda mais exótica. Afinal, como os nomes dos dinossauros são escolhidos?
Pesquisadores que dão a sorte de descobrir uma nova espécie de dinossauro têm a oportunidade de batizá-lo (Fonte: Shutterstock)Fonte: Shutterstock
A palavra dinossauro foi cunhada em 1841 pelo paleontólogo britânico Richard Owen. Ela é a junção dos termos em grego para "terrível" (dino) e "lagarto" (saurus), e foi usada para descrever os primeiros fósseis de répteis pré-históricos encontrados.
Da mesma forma, as primeiras espécies descobertas também foram descritas com palavras de origens gregas ou latinas. Juntando pedacinhos diferentes, como "tyrannus" (tirano) ou "rex" (rei), forma-se nomes completos: Tyrannosaurus rex.
Mas esses nomes devem seguir algumas regras, as mesmas usadas para todos os organismos vivos - ou extintos. Elas são definidas pela taxonomia, área da biologia responsável por identificá-los, nomeá-los e classificá-los.
Quem batiza os dinossauros?
De acordo com uma convenção, o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica, toda espécie animal recebe duas palavras em seu nome. A primeira indica o gênero a qual pertence e a segunda é o seu "epíteto específico".
Portanto, para batizar um novo dinossauro é necessário definir primeiro se trata-se realmente de uma espécie inédita e, em seguida, o quão aparentado ela é de outros répteis que já conhecemos.
Se for muito próximo, talvez eles pertençam ao mesmo gênero. Nesse caso a primeira palavra do nome da espécie já está definida e deve ser repetida. Mas a segunda, o tal "epíteto", ainda fica a gosto do descobridor.
Tyrannosaurus rex é um nome derivado das palavras gregas "tyrannus", tirano, "saurus", lagarto, e "rex", rei(Fonte: Shutterstock)Fonte: Shutterstock
Depois de escolhido, o nome tem ainda que ser aprovado pela Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica.
Para isso a anatomia completa do réptil deve ser descrita e as análises de relação com outras espécies conhecidas devem ser explicadas. A novidade também tem que estar publicada em uma revista científica conceituada.
Além disso, algumas espécies acabam sendo reclassificadas com o tempo. Isso acontece principalmente quando são descobertos novos fósseis que nos permitem entender melhor a sua anatomia e fisiologia. Nesses casos o nome mais antigo sempre leva a vantagem.
Diversidade de nomes
Aos poucos, com a descoberta de mais e mais fósseis de animais extintos, houve uma explosão de nomes interessantes e curiosos - a até mesmo alguns trava-línguas, como o argentino Piatnitzkysaurus floresi.
Depois de esgotar os termos em latim e grego, os pesquisadores se permitiram esbanjar a criatividade. Muitos aproveitaram para homenagear colegas paleontólogos - e alguns, até a si mesmos.
Hoje também é muito comum encontrar termos em línguas locais usados para denominar dinossauros, como o Nqwebasaurus thwazi, batizado na língua sul-africana isi-Xhosa. Seu nome, em tradução livre, significa "corredor veloz da região de Kirkwood".
Às vezes também nos deparamos com nomenclaturas curiosas. É o caso do famigerado Dracorex hogwartsia, nomeado em referência à famosa saga do bruxo britânico Harry Potter.
Répteis pré-históricos à moda tupiniquim
Aqui no nosso país as coisas não são muito diferentes. A maioria dos répteis tupiniquins pré-históricos são batizados em homenagem a pesquisadores reconhecidos na área da paleontologia.
Isso aconteceu com o Adamantisaurus mezzalirai e o Baurutitan britoi, que fazem referência aos cientistas Sérgio Mezzalira e Ignacio Machado Brito, respectivamente.
Os nossos especialistas também aproveitam a oportunidade para honrar cidades e regiões brasileiras. É o caso do Amazonsaurus maranhensis, descoberto na região amazônica do estado do Maranhão.
Brasileiro, o Berthasaura leopoldinae é uma tripla homenagem: à Bertha Maria Júlia Lutz, pesquisadores, à imperatriz Maria Leopoldina e à escola de samba Imperatriz Leopoldinense (Fonte: UFRJ/Maurilio Oliveira/reprodução)Fonte: UFRJ/Maurilio Oliveira
Por sua vez, o Saturnalia tupiniquim foi batizado em honra ao carnaval - festa popular que teve origem às comemorações romanas ao deus Saturno - e aos povos tupiniquins. O hábito de usar termos indígenas ou africanos também é comum entre os paleontólogos.
É o caso do Unaysaurus tolentinoi. Em tupi, "unay" significa “água negra” e tolentinoi é derivado do paleontólogo Tolentino Marafiga. Outro caso interessante é do espinossaurídeo Oxalaia quilombensis, homenagem ao deus africano Oxalá e aos povos quilombolas do país.
Sejam características físicas, lugares ou pesquisadores importantes, a verdade é que por trás do nome de todo dinossauro existe uma história fascinante sobre sua descoberta e seus descobridores.
É com criatividade, e às vezes bom humor, que paleontólogos em todo o mundo batizam os répteis que uma vez habitaram esse planeta, enquanto tentam desvendar um mistério mais importante: a origem e evolução da vida.