Novos estudos científicos revelaram que o vírus causador da mononucleose pode ser uma das causas da esclerose múltipla. Segundo os cientistas, o Epstein-Barr (EBV) aumenta em 32 vezes o risco da doença.
Um segundo grupo de pesquisadores também revelou o mecanismo de ação do patógeno. A comunidade científica já desconfiava que vírus poderiam estar por trás da síndrome, mas agora a hipótese ganhou reforço.
Esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso (Fonte: Pexels/Anna Shvets)Fonte: Pexels
A esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso. Nessa condição de saúde os glóbulos brancos e anticorpos, desregulados, atacam o cérebro e a medula espinhal, gerando disfunções neurológicas, como perda da visão, dificuldade de caminhar ou disfunção urinária.
É difícil estabelecer as causas da síndrome, porque ela surge a partir de combinação de predisposição genética e fatores ambientais. Tabagismo, níveis baixos de vitamina D, obesidade e exposição a solventes orgânicos estão entre as condições que favorecem o surgimento da doença.
Correlação entre a doença e o vírus
E agora, com base em evidências mais sólidas, a infecção pelo EBV passa a integrar a lista das possíveis causas da esclerose múltipla. Um estudo publicado na revista científica Science mostrou que o vírus é o maior fator de risco para a esclerose múltipla descoberto até o momento.
Na pesquisa, os especialistas analisaram o sangue de soldados americanos. Nos Estados Unidos os militares passam por uma bateria de exames a cada dois anos, e o soro restante fica guardado em um banco de dados.
Peneirando 15 anos de informações sobre mais de 1 milhão de jovens soldados, os pesquisadores identificaram entre eles que quase mil desenvolveram esclerose múltipla durante o período de serviço.
Depois, analisando o soro, foram capazes de determinar se alguns deles haviam sido infectados pelo EBV. Também selecionaram jovens com características similares que não sofrem da síndrome para constituir um grupo de controle.
Os resultados mostram que o patógeno aumenta em até 32 vezes o risco da doença. Essa descoberta é muito significativa, e aponta que a prevenção contra o vírus, que atinge 95% da população adulta, pode reduzir o número de casos de esclerose.
Mecanismo de ação revelado
Em outro trabalho, publicado na revista Nature, William Robinson, professor de imunologia e reumatologia da Universidade de Stanford, Estados Unidos, e sua equipe de pesquisa se debruçaram sobre o mecanismo de ação do vírus.
Para desvendar esse mistério, os especialistas examinaram os anticorpos dos pacientes com esclerose e descobriram que a proteína EBNA1, do Epstein-Barr, é um dos seus alvos favoritos. O problema é que essa molécula é capaz de imitar a GlialCAM, um metabólito humano.
A GlialCAM é uma proteína da bainha de mielina, estrutura que reveste e isola as células do sistema nervoso. Por não ser capaz de diferenciar entre elas, quando o nosso aparato imune entra em ação para combater o vírus, acaba atacando nossas próprias células.
Steinman afirma que uma vacina contra o vírus Epstein-Barr talvez possa erradicar a esclerose múltipla. A descoberta de que o EBV desencadeia a síndrome também pode favorecer estudos futuros sobre doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide.
ARTIGOS Nature: doi.org/10.1038/s41586-022-04432-7; Science: doi.org/10.1126/science.abj8222