Richard Feynman possuía um conjunto de características que o tornavam único. Nascido em 11 de maio de 1918, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos, o cientista peculiar era dotado de uma mente rápida e um espírito livre. O contador de histórias, músico, escritor, professor, artista e físico, foi um homem excepcional.
O Físico norte-americano Richard Feynman em foto de 1984Fonte: Tamiko Thiel (1984)
Incentivado desde pequeno para ser um cientista, Feynman fez sua graduação em física pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Após sua formatura, ingressou no programa de pós-graduação da Universidade de Princeton, onde atuou como assistente de pesquisa entre os anos de 1940-1941 no Instituto de Estudos Avançados, e conquistou sou Ph.D. em 1942.
Com os crescentes rumores de que a Alemanha estava desenvolvendo uma bomba nuclear durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), o governo americano criou o Projeto Manhattan, com objetivo de desenvolver bombas atômicas. Graças ao prestígio conquistado durante sua passagem por Princeton, Richard Feynman foi convidado para participar do projeto, e trabalhou sob o comando de Hans Bethe, líder do grupo de física teórica do projeto.
Vista aérea do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde Feynman fez sua graduação em físicaFonte: Shutterstock
Tendo auxiliado no desenvolvimento dos cálculos que prediziam a quantidade de energia liberada pela explosão da bomba, Feynman foi testemunha do primeiro teste de detonação, que ocorreu em 16 de julho de 1945, em Los Alamos National Laboratory, no Novo México.
Um fato bastante curioso aconteceu durante sua participação no Projeto Manhattan. Richard Feynman desenvolveu uma incrível habilidade em arrombar cofres. Os arquivos dos projetos eram ultra secretos e eram mantidos trancados para que ficassem seguros. Mas para comprovar que os cofres não eram assim tão seguros, ele os arrombava e deixava recados dentro. Sim, como eu disse no começo deste texto, Feynman era uma pessoa bastante peculiar, além de ser bem-humorado.
Vista da região onde fica o Los Alamos National Laboratory, nos Estados UnidosFonte: Shutterstock
Mas uma tragédia pessoal também aconteceu nesse período. Feynman perdeu sua primeira esposa Arline Greenbaum, vítima de tuberculose. Ele casou-se outras duas vezes, e teve filhos apenas com sua terceira esposa, Gweneth Howarth, com quem viveu até o final de sua vida.
O Prêmio Nobel de Feynman
Com o final da Segunda Guerra, Feynman partiu para outros projetos, e foi professor em instituições de renome como a Universidade de Cornell e o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech, em inglês). E foi na Caltech, que ele, em conjunto com outros pesquisadores, desenvolveu a Teoria da Eletrodinâmica Quântica (QED). A pesquisa lhe rendeu um Prêmio Nobel em 1965. Ele também desenvolveu pesquisas nas áreas de superfluidos e força fraca.
Feynman e o anel de Borracha
Em 1986, segundos após a decolagem do ônibus espacial Challenger, um acidente causou a explosão da espaçonave, e acabou matando seus 7 tripulantes. Uma comissão foi especialmente escolhida para investigar as causas do acidente, e Richard Feynman estava entre os escolhidos.
Memorial em Arlington (EUA) faz homenagem aos sete astronautas mortos no desastre da missão espacial Chalenger, em 1986Fonte: Shutterstock
Enquanto alguns diziam que as causas jamais poderiam ser esclarecidas, Feynman explicou o acidente utilizando uma das borrachas de vedação utilizadas pelo ônibus espacial e um copo de água gelada. Através de um experimento simples, ele demonstrou que em baixas temperaturas, aquele tipo de material perdia sua capacidade de resiliência.
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No dia do acidente, a temperatura ambiente estava muito baixa, o que pode ter causado congelamento das borrachas de vedação. Quando foi dada a ignição dos motores, as borrachas não tiveram tempo suficiente e capacidade de se expandirem, fazendo com que não houvesse vedação nos estágios dos motores, o que ocasionou na explosão. A explicação foi televisionada.
O final de uma história brilhante
Richard Feynman foi diagnosticado nos anos de 1970 com um tipo raro de câncer no abdômen. Ele passou por uma cirurgia para retirada do tumor, que ocorreu com sucesso. Mas ficou com sequelas nos órgãos internos. Ele conviveu com a doença por muitos anos. Em 1987 os médicos viram uma progressão da doença, e realizaram uma nova cirurgia, mas o estado geral de sua saúde piorou significativamente. Optando por não passar mais por procedimentos, Feynman faleceu em 15 de fevereiro de 1988.
Feynman foi um físico excepcional, não apenas pela riqueza de seu trabalho como teórico, mas também como professor. Sua preocupação com a educação e a formação de novos cientistas foi o que o incentivou a ir para o Caltech, e mesmo em fazer visitas ao Brasil entre os anos de 1949 e 1966.
Todos os dias novos pesquisadores, cientistas e professores são formados em nossas universidades, mas a preocupação de Feynman sempre foi: qual a qualidade desses profissionais? Privilegiados são os que puderam conviver com esse ser humano tão singular. A nós restam suas obras como os livros "Lições de Física", que reúne suas aulas ministradas a alunos de graduação na década de 1960.