*Este texto foi escrito por uma colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Como a vida surgiu e se desenvolveu na Terra? Como a vida se desenvolve no Universo? Cada dia mais a ciência se aproxima dessa resposta.
Sabemos que a vida como conhecemos é constituída à base de complexas cadeias de carbono. Isso significa que precisamos conseguir construir longas cadeias de carbono, com muitos átomos e moléculas, para formar a vida complexa que conhecemos na Terra: animais, fungos, bactérias, seres humanos, plantas e por aí vai.
Para chegarmos até essas cadeias complexas, precisamos de blocos de construção. Assim como uma casa precisa de tijolos. Como acontece essa construção, quais ambientes precisamos, como esses blocos chegam até os planetas: todas essas perguntas estão ainda em aberto e em constante investigação. E no último dia das mulheres, na terça-feira (8), chegamos mais perto dessas respostas: uma equipe de 6 astrônomas detectou, pela primeira vez, um desses blocos para formação de vida em um disco de formação planetária.
Vamos por partes. O bloco para vida encontrado nesse caso é a molécula "éter dimetílico" que em linguagem química é escrita assim: CH3OCH3. Ou seja, possui 2 carbonos, 1 oxigênio e 6 hidrogênios. Essa foi a cadeia mais longa já detectada nesse tipo de região. O local da detecção é um disco de formação de planetas nomeado IRS 48, que está a 444 anos-luz de distância. Isso significa que essa molécula, que pode ser usada como bloco de formação de vida, está presente na região em que planetas estão se formando!
E se essa foi também a história de formação da Terra?
Não é a primeira vez que essa molécula é detectada pelo Universo, além da Terra. A astroquímica é um ramo da astronomia que é capaz de estudar a composição química em diferentes locais do Universo. Nuvens moleculares, outras estrelas, discos de formação planetária, nebulosas planetárias, outras galáxias e por ai vai. Analisando a luz desses objetos nós somos capazes de entender a composição química deles, e isso permite que a gente construa o cenário de evolução em todas as escalas.
Essa molécula já foi detectada outras vezes em nuvens moleculares, que posteriormente formarão estrelas e planetas. Mas como essas moléculas sobreviveriam ao processo de formação estelar e alimentariam atmosfera de futuros planetas ainda não estava claro. E agora está!
Ciclo de vida de uma estrela, incluindo formação planetária e desenvolvimento de vida na parte inferior.Fonte: Phys.org
O cenário proposto é que, nas nuvens que darão origem a estrelas, antes mesmo de estrelas se formarem, começa-se a produção de moléculas. Isso porque essas nuvens são frias, possibilitando a formação de monóxidos de carbono (moléculas com um único carbono). Esses monóxidos se juntam com poeira cósmica presente, congelando e passando por transformações químicas, que originarão moléculas mais complexas como o éter dimetilico.
Uma vez que a estrela se forma junto com o disco que originará os planetas, a temperatura ambiente aumenta. Com temperaturas suficientes, as moléculas complexas podem se libertar do gelo. Isso possibilita que tais moléculas estejam presente na mistura que dará origem a planetas, suas atmosferas e suas possíveis e complexas formas de vida!
As pesquisadoras estavam bem animadas com o potencial da descoberta e as possibilidades para o futuro. A expectativa é entender cada vez melhor qual caminho evolutivo que esses blocos de vida passam, e como eles chegam até os planetas. Podemos, afinal, estar observando histórias de nascimentos semelhantes à da Terra.
Camila de Sá Freitas, colunista do TecMundo, é bacharel e mestre em astronomia. Atualmente é doutoranda no Observatório Europeu do Sul (Alemanha). Autointulada Legista de Galáxias, investiga cenários evolutivos para galáxias e possíveis alterações na fabricação de estrelas. Está presente nas redes sociais como @astronomacamila.
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