O primeiro radiotelescópio de alcance milimétrico da África está em construção. O Africa Millimeter Telescope vai ficar na Reserva Natural de Gamsberg, na Namíbia, e preencherá uma lacuna na cobertura da rede mundial de telescópios Event Horizon Telescope (EHT). Com o observatório nesta posição, será possível para os astrônomos da região fazer análises bem mais abrangentes do céu.
O telescópio de 15 metros, que será reaproveitado, atualmente está localizado em La Silla, no Chile, e foi doado pelo Observatório Espacial Onsala, na Suécia, em parceria com o Observatório Europeu do Sul, na Alemanha.
O projeto deve custar cerca de US$ 25 milhões de dólares, incluindo construção, operações e projetos de extensão e é uma colaboração entre a Universidade Radboud Nijmegen, na Holanda, e a Universidade da Namíbia. O telescópio deve levar cerca de cinco anos para entrar em operação. A escolha da região ao sul da África se deve ao fato de que países com céu relativamente claro e baixa densidade populacional são ideais para a astronomia.
Como o radiotelescópio africano vai funcionar
O buraco negro do centro da galáxia M87Fonte: National Science Foundation
Telescópios na faixa de comprimento de onda milimétrica podem visualizar o horizonte de eventos de um buraco negro, disse à Nature o gerente do projeto, Marc Klein Wolt, que é diretor-gerente do radiolaboratório da Universidade Radboud. Ele explicou que em comprimentos de onda mais longos, só se vê uma bolha, mas em comprimentos de onda milimétricos, é possível ver também a borda dos buracos negros.
Buracos negros se formam no espaço quando estrelas colapsam ou se chocam, e a atração gravitacional é tão forte que nem mesmo a luz pode escapar. Isso os torna invisíveis ao olho humano. Ao estudá-los, os astrônomos buscam descobrir como o nosso universo foi formado.
Em 2019, a equipe do EHT publicou uma imagem célebre do buraco negro supermassivo no centro da galáxia M87. Foi a primeira imagem a mostrar o contorno do horizonte de eventos de um buraco negro. Agora, o astrofísico Heino Falcke - que anunciou a primeira imagem de um buraco negro -, também da Universidade Radboud, será o líder científico do Telescópio Milimétrico da África.
“Você precisa ter um telescópio no Hemisfério Sul, no sul da África, para fazer todas essas conexões [com outros telescópios da rede]”, afirmou o gerente do projeto à revista. “Isso permitiria que você observasse [o céu] enquanto a Terra gira”, acrescentou.
O EHT exigirá cerca de um quinto do tempo total de observação do telescópio e a maior parte do tempo estará disponível para os astrônomos da Namíbia, que, segundo a reportagem, não veem a hora de estudar variações no brilho de pequenos e grandes buracos negros.
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