Encontrar sinais de radio vindos do espaço não é novidade para nenhum astrônomo. Mas quando Natasha Hurley-Walker apontou seu telescópio para a via láctea, ela encontrou sinais que a deixaram intrigada.
É que os pulsos não seguem nenhum dos padrões conhecidos atualmente. Eles são emitidos a cada 18,18 minutos, aproximadamente, duram alguns segundos e são acompanhados de uma enorme quantidade de energia.
A descoberta foi publicada na quarta-feira (26) na revista científica Nature.
Telescópio MWA na Austrália Ocidental (à esquerda) e projetos futuros de expansão da instalação (à direita) (Fonte: ICRAR/SKAO)Fonte: ICRAR/SKAO
Hurley-Walker, que é pesquisadora da Universidade de Perth, Austrália, buscou registros antigos e encontrou no total 71 evidências de atividade do objeto, registradas desde 2018. Pelos seus cálculos, estima-se que ele esteja a 4 mil anos-luz da Terra.
Os registros passaram despercebidos porque os cientistas não costumam buscar por padrões nessa escala de tempo. Na astronomia, os pulsos de energia costumam acontecer em intervalos muito mais rápidos, em intervalos menores que um segundo.
A equipe de pesquisa realizou outras medições que mostraram que o objeto que mite o sinal possui um campo magnético. Os dados indicam se tratar de um objeto astrofísico chamado de magnetar de período ultra-longo, e a pulsação indica que o ele está girando.
Esse corpo celeste é um tipo de estrela de nêutrons que existia apenas teoricamente. Ele nunca foi detectado antes e os pesquisadores esperavam que fosse menos brilhante. Mas, de alguma forma, ele é capaz de converter energia magnética em ondas de rádio.
A descoberta foi feita usando o telescópio Murchison Widefield Array (MWA), na Austrália Ocidental. Para completar o mistério, os pulsos não são constantes. Seja o que for que está emitindo o sinal, interrompe o processo por alguns períodos.
O objeto esteve ativo em janeiro de 2018. Depois desligou a maior parte do mês de fevereiro, e voltou a ligar em março. Mas durante os 30 dias nos quais pode ser detectado, o sinal seguiu rigorosamente o seu cronograma.
Agora a pesquisadora está monitorando o céu, na espera de que o sinal volte a aparecer.
“Se isso acontecer, existem telescópios em todo o Hemisfério Sul e até em órbita que podem apontar diretamente para ele”, afirma em nota publicada pelo Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia.
Hurley-Walker também quer encontrar mais desses objetos nos registros arquivados do telescópio. “Há, sem dúvida, muitas outras joias a serem descobertas nos próximos anos”, diz.
ARTIGO Nature: doi.org/10.1038/s41586-021-04272-x
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