Um antigo estudante da Universidade de Cambridge andava por uma praia no norte da Inglaterra quando avistou uma pedra caída — um grande bloco de arenito que, ao cair de um penhasco, se abriu e expôs o fóssil do maior invertebrado já encontrado pela ciência.
Os restos seriam de um animal do gênero Arthropleura, artrópode que viveu no Período Carbonífero — há cerca de 326 milhões de anos, mais de 100 milhões de anos antes da Era dos Dinossauros.
O fóssil tem aproximadamente 76 por 36 cm e é um dos maiores restos de artrópode já encontrados. Cientistas estimam que o ser teria sido grande como um carro, com até 2,63 metros de comprimento, 55 cm de largura e peso de 50 kg.
Reconstrução do espécime de Arthropleura a partir do fóssil encontrado.Fonte: Neil S. Davies et al. Journal of the Geological Society 2021;jgs2021-115
Descoberto em janeiro de 2018, o fóssil foi extraído em maio de 2018, precisando de quatro pessoas para carregá-lo. Pesquisadores analisaram os restos e descreveram suas conclusões em um artigo publicado em 21 de dezembro de 2021 no Journal of Geological Society.
Neil Davis, autor principal do artigo e professor no departamento de ciências da terra da Universidade de Cambridge, afirmou à imprensa que fósseis como este são raros, já que os corpos do Arthropleura tendem a se desarticular após a morte. Somente dois espécimes comparáveis haviam sido encontrados, ambos menores e mais novos.
Fóssil trouxe novas hipóteses sobre Arthropleura
Como uma cabeça fossilizada do Arthropleura nunca foi encontrada, as informações sobre o animal são limitadas. Ainda assim, a descoberta trouxe novas hipóteses sobre a espécie, que se tornou o maior invertebrado já existente na Terra.
Antes, acreditava-se que seu tamanho seria decorrente de um pico de oxigênio atmosférico que ocorreu nos períodos Carbonífero e Permiano. Porém, o fóssil vem de rochas depositadas antes deste pico, indicando que podem ter havido outras razões para seu gigantismo.
Restos do espécime encontrado após escavação. O fóssil é um dos maiores restos de artrópode já encontrados.Fonte: Neil S. Davies et al. Journal of the Geological Society 2021;jgs2021-115
Os pesquisadores acreditam que os animais tinham uma dieta rica em nutrientes — na época, nozes e sementes nutritivas estavam amplamente disponíveis e, segundo Davis, também é possível que sua dieta contivesse outros invertebrados e pequenos vertebrados, como anfíbios.
O espécime também trouxe novas informações sobre seu habitat. Ao invés de pântanos de carvão, como pensava-se antes, os Arthropleura preferiam florestas abertas perto da costa. Na época, a região ficava mais próxima do Equador, e o clima era mais tropical.
Reconstrução da espécie de Arthropleura em seu habitat natural, perto da costa.Fonte: Neil S. Davies et al. Journal of the Geological Society 2021;jgs2021-115
A espécie foi extinta no período Permiano, sendo duas as principais hipóteses para a extinção: o aquecimento global, que teria tornado o clima seco demais para sua sobrevivência, e a ascensão dos répteis, que teriam dominado os mesmos habitats e vencido os Arthropleura na competição por alimento.
ARTIGO Journal of the Geological Society: doi.org/10.1144/jgs2021-115