Pesquisadores descobriram na Austrália o animal com mais patas do mundo — ou, ao menos, o com mais patas já observado pela ciência. Com 1.306 patas e menos de 10 centímetros de comprimento, a espécie foi encontrada em agosto de 2020 e sua descoberta foi relatada em artigo publicado nesta quinta-feira (16) no periódico Scientific Reports.
A espécie foi encontrada em um buraco de 60 metros de profundidade criado para exploração mineral. Batizada pelos cientistas de Eumillipes persephone, a espécie faz parte da classe dos diplópodes ou milípedes, que tem entre seus representantes mais conhecidos o piolho-de-cobra.
Espécime fêmea da Eumillipes persephone, com 1.306 patas e 330 segmentos, é o animal com mais patas já descrito pela ciênciaFonte: Paul E. Marek, Bruno A. Buzatto, William A. Shear, Jackson C. Means, Dennis G. Black, Mark S. Harvey, Juanita Rodriguez, Scientific Reports
Na Scientific Reports, os pesquisadores chamaram a espécie de primeiro “verdadeiro milípede”; a palavra milípede vem do latim “mil patas”, mas até então nenhum animal descrito pela ciência havia atingido esta marca. O também milípede Illacme plenipes, que antes ocupava o posto de animal com mais patas do mundo, tinha apenas 750.
Visão ventral das pernas de um espécime macho da Eumillipes persephoneFonte: Paul E. Marek, Bruno A. Buzatto, William A. Shear, Jackson C. Means, Dennis G. Black, Mark S. Harvey, Juanita Rodriguez, Scientific Reports.
Foram coletados oito indivíduos da nova espécie. Seu corpo extremamente alongado e ausência de olhos e pigmentação a diferenciam de seus parentes mais próximos à superfície e outros membros da sua ordem.
Os pesquisadores teorizam que o grande número de pernas e anéis também são adaptações importantes à locomoção da espécie em um ambiente de grande profundidade. Suas grandes antenas a auxiliam a encontrar entradas no solo.
A espécie Eumillipes persephone tem cabeça em formato de cone e grandes antenas, que a ajudam a encontrar entradas nos pequenos espaços de seu habitatFonte: Paul E. Marek, Bruno A. Buzatto, William A. Shear, Jackson C. Means, Dennis G. Black, Mark S. Harvey, Juanita Rodriguez, Scientific Reports.
Apesar de pouco estudadas, as espécies de invertebrados têm grande importância ecológica, como na filtração de águas subterrâneas e triagem de toxinas ambientais, e os estudiosos alertam para a necessidade da conservação de seu habitat.
Procedimentos de coleta dos animais
Os animais foram descobertos por pesquisadores em buracos de exploração mineral, com 1,5 cm de diâmetro e até 81 metros de profundidade, no qual foram colocadas armadilhas específicas para atrair invertebrados de grandes profundidades.
As armadilhas consistem em cilindros de PVC com numerosas aberturas, junto de material orgânico em decomposição que serve como isca aos animais. Após aproximadamente dois meses, as armadilhas são retiradas dos buracos e os espécimes coletados, examinados em laboratório.
A equipe de pesquisadores foi liderada por Paul Marek, do departamento de entomologia da Virginia Tech, nos EUA, e contou também com o brasileiro Bruno A. Buzatto, professor do departamento de ciências biológicas da Macquarie University, na Austrália. O estudo foi apoiado por uma bolsa da National Science Foundation.
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