Um estudo publicado na revista Science Advances na última quarta-feira (8) mostrou que despertar logo após o início do primeiro estágio do sono — também chamado de estágio N1 — pode estimular a capacidade criativa. De acordo com a pesquisa, isso ocorre porque esse estágio é capaz de ativar conexões no cérebro relacionadas à criação de novas ideias.
Esse fenômeno foi observado em um estudo com 103 participantes, que deveriam realizar uma tarefa matemática sem saber que existia um "atalho" para resolver o problema. No experimento, os participantes que não conseguiram encontrar o atalho na primeira fase do teste foram colocados em uma sala escura, onde poderiam dormir enquanto eram monitorados.
Segundo a pesquisa, aqueles que haviam acordado pouco tempo após dormirem se saíram muito melhor ao tentar resolver o problema novamente: 83% deles conseguiram encontrar o atalho, ou seja, acharam uma solução criativa para o problema apresentado. Entre aqueles que não dormiram, apenas 30% alcançaram o mesmo feito.
Outra descoberta de destaque, segundo o estudo, é a que mostra que o efeito é ainda menor entre aqueles que dormiram por mais tempo e atingiram fases mais avançadas do sono: apenas 14% deles encontraram o atalho para a resolução do problema.
No entanto, os resultados não são imediatos, e pode levar um tempo até que o "aumento" da criatividade tenha efeito, diz a pesquisa. No estudo, mesmo aqueles que acordaram logo após o início da primeira fase do sono precisaram de, em média, mais 101 tentativas para que conseguissem encontrar o atalho.
Famoso inventor já conhecia o fenômeno
Thomas Edison usava método semelhante para ter novas ideias. (Fonte: Library of Congress)Fonte: Library of Congress
A revista Science diz que esse fenômeno já era conhecido por Thomas Edison, famoso inventor que possui mais de mil patentes registradas, entre elas, a lâmpada incandescente.
Ao encontrar dificuldade em resolver um problema complexo, Edison tentava dormir segurando uma bola de aço nas mãos. Ao adormecer, a bola caía no chão, o que fazia com que ele acordasse com o som e despertasse logo após o início do sono. Ele acreditava que isso o ajudava a se lembrar das ideias que teve enquanto dormia.
Uma das autoras do estudo, Delphine Oudiette, disse em entrevista para a Science que "de alguma forma, Edison estava certo, e agora temos muito mais a explorar." A pesquisadora também diz que o estudo foi capaz de identificar um padrão de atividade cerebral relacionado ao estímulo criativo, e que agora os pesquisadores podem explorar esses padrões para investigarem mais profundamente os mecanismos cerebrais relacionados com a criatividade.
ARTIGO Science Advances: doi.org/10.1126/sciadv.abj5866
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