Muitas vezes eles passam despercebidos por nós, mas os fungos são peças importantes para a vida no planeta. Só no solo, representam quase metade de toda a biomassa. Os cientistas, agora, querem mapeá-los ao redor do mundo.
O novo projeto da Sociedade para a Proteção de Redes Subterrâneas (SPUN, da sigla em inglês), pretende realizar coletas de dez mil amostras de solo a partir do próximo ano, começando pela Patagônia.
Co-fundadores da SPUN, os cientistas Toby Kiers e Colin Averill pretendem analisar as amostras coletadas para identificar as espécies de fungos presentes nelas e entender como eles podem nos ajudar a enfrentar os desafios ecológicos dos dias atuais.
Uma rede de micélios. A iniciativa da empresa SPUN pretende mapear as espécies de fungo ao redor do mundo (Fonte: SPUN/Loreto Oyarte)Fonte: SPUN
Para criar o mapa, os pesquisadores contarão com a ajuda de comunidades locais, que realizarão a coleta de amostras. Serão coletados pedaços de solo a partir de dois centímetros de profundidade, bem próximo da superfície, e material proveniente de maiores profundezas.
Esse material será encaminhado para os centros de pesquisa próximos aos locais de coleta, onde será realizada a extração do DNA dos fungos encontrados nessas amostras.
Seres vivos subestimados
Apesar de serem subestimados, os fungos formam um vasto reino de seres vivos, que incluem desde alguns patógenos para os seres humanos até deliciosos cogumelos usados em diversas receitas.
Um tipo especial de fungos são os micorrízicos. Eles são importantes porque formam uma espécie de rede subterrânea com seus micélios. Essas redes são capazes de transportar nutrientes que ajudam no crescimento das florestas.
Redes subterrâneas de fungos também são importantes na agricultura. Uma plantação que não possua esse sistema pode perder até metade da sua capacidade de reciclar nutrientes.
O micélio compõe a parte principal do corpo desses fungos, e é uma estrutura que cresce de forma parecida às raízes das árvores. Eles se dispersam no chão das florestas e se conectam entre si. Estima-se que a medida de uma mão cheia de terra pode conter até 100 km de micélio.
Co-fundadores da SPUN, Toby Kiers, professor na Universidade Livre de Amsterdam, e Colin Averill, pesquisador Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (Fonte: SPUN/Seth Carnill)Fonte: SPUN
Categorizando e mapeando essas redes, cientistas acreditam que poderão descobrir novas características dessas espécies e determinar, por exemplo, quais são mais eficientes em sequestrar carbono da atmosfera e quais são melhores em reciclar nutrientes do solo.
Os responsáveis pela iniciativa esperam que esse novo mapa-múndi seja um instrumento para ser consultado por cientistas mundo afora.
Vítimas das mudanças climáticas
Os pesquisadores afirmam que é importante entender as maneiras que as mudanças climáticas afetam essa rede subterrânea de fungos, principalmente para tomar ações para protegê-las.
O solo é o segundo maior armazém de carbono no planeta, depois dos oceanos. Grande parte desse elemento está presente na composição dos seres vivos que ali vivem, inclusive no micélio de fungos.
Segundo a empresa, o atlas global também tem como objetivo estimular os esforços de conservação, já que os fungos estão sob crescente ameaça pela agricultura, urbanização, poluição, escassez de água e mudanças climáticas.
"Fungos são engenheiros invisíveis de ecossistemas, e a perda deles está passando despercebida pelas pessoas", diz Toby Kiers para a revista Time.
Esses seres vivos também formam relação simbiótica com plantas. Praticamente todas as espécies vegetais compartilham alguma simbiose com fungos. Essas associações foram tão importantes que mudaram o curso da evolução da vida na Terra.
O padrão da biodiversidade de fungos parece não seguir o de outras espécies — que geralmente é maior quanto mais próximo ao equador —, ao menos é o que sugerem os estudos iniciais.
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