Foi em Orapa, cidade do interior da Botsuana, país do sul da África, onde se encontrou um pequeno diamante de 81 miligramas. A pedrinha foi levada para os Estados Unidos e vendida para o mineralogista George Rossman. O que não se sabia até então era que ela continha um mineral raro, a davemaoita.
Oliver Tschauner, professor da Universidade de Nevada, estuda diamantes do interior profundo do planeta e se interessou pelo exemplar de Rossmann. Analisando com raio-x, os pesquisadores observaram pedacinhos de outro material incrustado. Se tratava de uma grande descoberta.
Os pequenos pontos pretos no diamante são o mineral recém-descoberto, a devomaoita (Fonte: Aaron Celestian, Natural History Museum of Los Angeles County)Fonte: Aaron Celestian, Natural History Museum of Los Angeles County
O material em questão era o silicato de cálcio. As moléculas dessa substância podem se organizar de muitas maneiras. Uma delas, chamada perovskita, foi a estrutura encontrada pelo grupo de Rossmann.
O mineral foi batizado em homenagem a Ho-Kwang 'Dave' Mao, cientista que fez importantes descobertas nas áreas de geoquímica e geofísica. O estudo foi publicado no dia 11 de novembro na revista científica Science, uma das principais do mundo.
As características únicas da davemaoita forneceram pistas da sua procedência. No interior da Terra, muito abaixo dos oceanos e dos continentes, em uma região inalcançável, está localizado o manto terrestre.
Constituído de um mar de rocha em estado líquido, chamada de magma, essa região chega a altíssimas temperaturas e pressões. Nessas condições são formadas muitas rochas, inclusive os diamantes.
Porém, algumas delas existem exclusivamente nas altas pressões do interior do manto. É o caso da perovskita de silicato de cálcio, que forma a davemaoita. Esse mineral se degrada na viagem de subida até a superfície e não chega até nós. Pelo menos, assim pensavam os cientistas.
Estação de tratamento de água em mina de diamante de Botsuana (créditos: Lucian Coman/Shutterstock)
"Quando nós abrimos o diamante, a davemaoita se manteve estável por cerca de um segundo, e então nós a vimos expandir e inchar no microscópio e, basicamente, se transformar em vidro", disse Tschauner para o site da revista britânica New Scientist.
Foi de carona no diamante, um dos materiais mais duros conhecidos, que esse mineral conseguiu resistir às mudanças de pressão no caminho percorrido até ser encontrado na mina de Orapa.
A davemaoita é um dos três principais componentes do manto inferior da Terra e o único que carrega urânio e tório no seu interior. O decaimento desses elementos radioativos produz energia e gera calor nas camadas mais internas do planeta.
Na profundidade da Terra, o calor se movimenta e promove a circulação do magma. As grandes correntes de rocha líquida resfriam ao atingirem a camada mais superficial, dando origem à crosta terrestre e ao fenômeno do tectonismo, o deslocamento dos continentes.
Agora, cientistas querem buscar outros diamantes contendo davemaoita. O exemplar encontrado tem átomos de potássio e pesquisadores pretendem usar essa pista na caçada por mais material para estudo. Existe interesse porque minerais raros como esse muitas vezes contêm a solução de grandes mistérios da ciência.
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