Da mesma forma que o deus grego que lhe dá nome, Plutão é um planeta (anão, desde 2006) escuro e aparentemente feio. Por isso, a sonda New Horizons da NASA fez história quando passou pelo distante mundo em 2015 e enviou para a Terra fotos desse importante membro do cinturão de Kuiper e suas luas. Recentemente, após um longo processo de limpeza, algumas daquelas imagens começaram a ser publicadas, revelando o "lado escuro" do planeta.
Após sobrevoar a superfície gelada de Plutão a uma distância de "apenas" 12,5 mil quilômetros, a sonda espacial seguiu seu caminho, a uma velocidade de 14,5 quilômetros por segundo rumo ao objeto Arrokoth, na mesma região transnetuniana. Porém, ao “olhar para trás”, a New Horizons conseguiu observar o hemisfério sul de Plutão e até tirar algumas fotos usando a iluminação refletida pelo nosso distante Sol na superfície da lua de gelo Caronte, a maior do planeta.
“Em uma coincidência surpreendente, a quantidade de luz de Caronte sobre Plutão é parecida com a da Lua sobre a Terra, na mesma fase cada uma”, explica o astrônomo Tod Lauer em um comunicado da NASA publicado em outubro. A recuperação daquelas imagens superexpostas, feita por uma equipe do National Optical Infrared Astronomy Research Lab, transformou-se em pesquisa científica, publicada na revista The Planetary Science Journal junto com a foto obtida.
Fonte: The Planetary Science Journal/Divulgação.Fonte: The Planetary Science Journal
Como foram recuperadas as fotos do lado escuro de Plutão?
De acordo com a equipe de pesquisadores liderada por Lauer, o trabalho de recuperação dos detalhes da superfície de Plutão na foto não foi fácil. "O problema era muito parecido com tentar ler uma placa de rua através de um para-brisa sujo ao dirigir em direção ao sol poente, sem um protetor solar", afirmou o cientista planetário John Spencer, coautor do estudo.
Foi necessário recombinar nada menos do que 360 imagens do lado escuro de Plutão com outras 360 fotos tiradas com a mesma geometria, porém sem a imagem do planeta. Dessa forma, foi possível produzir uma imagem final retirando o ruído presente e mantendo tão somente a luz refletida por Caronte.
As imagens resultantes, embora com algum ruído digital, revelam regiões e formações proeminentes na superfície obscurecida de Plutão. Nessa paisagem, destaca-se uma zona crescente escura a oeste do planeta, onde nem a luz solar nem a de Caronte tocaram. Também é possível observar uma enorme área brilhante que vai do polo sul até o equador de Plutão, que pode ser um grande depósito de nitrogênio ou metano congelado, segundo os autores.
Para explicar esse contraste entre o material escuro que cobre o polo sul de Plutão e a superfície mais clara do hemisfério norte, os pesquisadores teorizam que o fato pode ser resultante do fim do verão meridional no planeta (ocorrido 15 anos antes do sobrevoo). Para confirmar todas as teorias, seria necessário enviar uma missão subsequente, afirma Lauer. No entanto, o hemisfério sul do planeta somente receberá a luz solar daqui a 100 anos.
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