Cientistas de instituições de pesquisa da Espanha e da Áustria estudaram os mecanismos de resistência desenvolvidos pela espécie de fungo Cândida glabrata, que causa candidíase, à exposição de vários medicamentos, e identificaram oito genes que, quando sofrem mutação, são responsáveis por permitir que o patógeno se adapte e sobreviva ao tratamento.
Até o momento, apenas metade desses genes eram conhecidos como candidatos a conferir resistência aos medicamentos. O novo estudo foi publicado nesta semana na revista científica Current Biology.
Estima-se que 80% das mulheres vão sofrer de candidíase vaginal pelo menos uma vez na vida. A candidíase é uma infecção provocada por fungos — o mais frequente é a Cândida albicans - que pode acometer as regiões inguinal, perianal e o períneo. Normalmente, ela está associada à queda de imunidade, ao uso de antibióticos, anticoncepcionais, imunossupressores e corticoides, à gravidez, diabetes, alergias e ao HPV (papiloma vírus).
O tratamento para a candidíase deve ser recomendado por um ginecologista e é feito com a aplicação de pomadas antifúngicas diretamente na vagina ou uso de comprimidos.
(Reprodução/Pixabay)Fonte: Pixabay
Embora haja medicamentos disponíveis para tratar essas condições, as infecções por Cândida se tornaram um sério problema para a saúde global, pois os médicos estão encontrando cada vez mais uma variedade de fungos que desenvolvem resistência ao tratamento.
“O interessante desse trabalho é que a identificação desses oito genes nos permite usar um teste genético para diagnosticar a potencial resistência aos medicamentos presente na infecção de um determinado paciente e, assim, ajudar na escolha do melhor tratamento”, disse Toni Gabaldon, bioquímico e biólogo molecular no Icrea (Instituto Catalão para Pesquisa e Estudos Avançados) e chefe do grupo que fez o estudo.
Processo evolutivo subjacente à incorporação de mecanismos de resistência
(Reprodução/Pixabay)Fonte: Pixabay
Para realizar esse estudo, os pesquisadores cultivaram populações independentes do fundo Cândida glabrata e administraram uma variedade de medicamentos disponíveis no mercado que possuem diferentes mecanismos de ação.
Eles então analisaram a resistência desenvolvida e os genomas das populações distintas para correlacionar os mecanismos com as diferenças genéticas.
As cepas geradas neste trabalho, que combinam resistência a diversos medicamentos, podem servir de modelo de estudo na busca de novos tratamentos.
Fenômenos de resistência cruzada
(Reprodução/IRB Barcelona)Fonte: IRB Barcelona
Além da resistência ao tratamento administrado, os pesquisadores também observaram que a exposição a um determinado medicamento (fluconazol) também causou resistência a outro tipo de medicamento (equinocandina) em 50% dos casos, embora essas populações nunca tenham sido expostas ao segundo medicamento.
“Esse fenômeno é conhecido como resistência cruzada e, nesse sentido, nossas descobertas devem levar a uma adaptação das diretrizes de tratamento para não favorecer o aparecimento de multirresistência”, afirma o Gabaldon.
O laboratório chefiado por Gabaldon recebeu apoio da Fundação la Caixa, que fornece incentivos a pesquisas e é ligada a um banco espanhol, para iniciar um projeto relacionado a essas descobertas. Esse esforço busca aprimorar o diagnóstico da candidíase e projetar novos tratamentos, buscando padrões de infecção e adaptação a drogas nas diferentes espécies de Cândida.
ARTIGO Current Biology: doi.org/10.1016/j.cub.2021.09.084
Fontes