*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Recentemente, em uma “enquete de conhecimentos gerais” realizada no Instagram, 97% das pessoas acertaram que a kryptonita é o ponto fraco do Super-Homem (herói da DC Comics), enquanto 55% acertaram que Júpiter é o maior planeta do sistema solar.
Pode parecer um contexto simples ou nada muito surpreendente considerando a popularidade dos filmes e quadrinhos do Homem de Aço. Conhecimentos específicos, como o tamanho dos planetas, não são necessariamente os mais relevantes no cotidiano das pessoas.
Porém, se partirmos do princípio da “necessidade” de se saber algo, é possível argumentar contra a grande maioria dos conhecimentos, o que não seria produtivo para ninguém. O ponto é que a utilidade real de um conhecimento é complexa de ser medida, uma vez que cada indivíduo se encontra em um contexto diferente.
Por exemplo, saber sobre histórias em quadrinhos pode não ser “útil” a um astrofísico, mas é essencial para um crítico de cinema. Isso não significa que uma pessoa não possa ter interesses diversos ou que um conhecimento seja melhor que outro. Quando pensamos no saber, seja ele sobre planetas, heróis, esportes, filmes, plantas ou o que quer que seja, a importância de cada uma dessas coisas não está no “sobre”, mas sim no “saber”.
Dado que muito se fala sobre o Sistema Solar nas escolas, confesso que esperava um percentual maior de acertos na questão sobre Júpiter (mesmo em uma enquete no Instagram), uma vez que assuntos relacionados à exploração espacial, formação de planetas ou coisas do tipo despertam o interesse e a curiosidade de muitas pessoas, seja durante a vida escolar ou posteriormente.
Falando de Júpiter, o planeta gigante está entre as coisas mais intrigantes que já conseguimos observar e estudar e, recentemente, um fenômeno que cientistas tentavam entender a mais de 40 anos, foi desvendado em um estudo.
Júpiter é tão grande que, muitas vezes, dados sobre seu tamanho são difíceis de conceber. Por exemplo, a massa de Júpiter é duas vezes e meia maior que a massa de todos os outros planetas do sistema solar somados, o que equivale a 317 vezes a massa da Terra. Ainda, a chamada Grande Mancha Vermelha de Júpiter, que pode ser observada através de um telescópio terrestre, é um furacão que perdura por séculos e já teve o dobro do diâmetro da Terra.
Imagem comparativa dos tamanhos da Terra e de Júpiter com a Grande Mancha Vermelha em destaqueFonte: Wikipedia/Nasa
Mas talvez um dos fenômenos mais interessantes relacionados a esse planeta seja a aurora. Em julho de 2021, a equipe liderada pelo cientista Zhonghua Yao, em conjunto com a agência espacial europeia (ESA), observou que Júpiter possui um campo magnético parecido com o campo magnético da Terra que orienta as bússolas que usamos e a migração de pássaros, por exemplo. As chamadas linhas de campo magnético funcionam como uma grande correnteza para partículas que possuem carga elétrica e, como as linhas convergem para os polos, nessas regiões, algumas partículas colidem e acabam emitindo radiação.
No caso da Terra, a luz das auroras (boreais e austrais) estão na chamada “faixa do visível”, o que permite sua observação a olho nu. Em Júpiter, a “luz” de suas auroras está na faixa dos raios-X, que são radiações de alta energia e, portanto, só podem ser observadas com o auxílio de telescópios específicos.
A novidade aqui, é que o campo magnético de Júpiter se estende por milhões de quilômetros no espaço antes de convergir para seus polos e por isso, a radiação emitida no fenômeno é mais energética do que a luz visível. Isto, segundo Yao, pode representar um avanço importante, não só no entendimento da fenômenos comuns a planetas diferentes da Terra, como também na maneira com a qual partículas e energia se propagam pelo Cosmos.
Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou
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