Desde o dia 15 de outubro, uma campanha de vacinação diferente está sendo conduzida na Austrália. Aplicado em uma injeção de dose única, um novo imunizante será testado em uma multidão de 400 coalas, reunidos no Hospital de Vida Selvagem do Zoológico da Austrália em Queensland. O procedimento faz parte de um teste realizado por pesquisadores para eliminar o risco de infecção pela Chlamydia pecorum.
O microrganismo, semelhante à bactéria Chlamydia trachomatis (que infecta seres humanos), é o causador da doença clamídia, que é transmitida pela via sexual (DST) e afeta ambas espécies sendo especialmente preocupante para os coalas, espécie que se encontra ameaçada de extinção no mundo.
A enfermidade é grave e, se não for tratada, pode causar infertilidade e cegueira permanente. Embora o tratamento da clamídia seja feito nos animais com o mesmo antibiótico utilizado em seres humanos, o índice de sucesso varia entre os coalas, pois esses marsupiais são suscetíveis a efeitos colaterais importantes, como perturbação da microbiota intestinal que permite a digestão das folhas de eucalipto, alimento básico da dieta dos arborícolas.
A nova vacina contra a clamídia
Fonte: Terry Walsh/University of the Sunshine Coast/ReproduçãoFonte: Terry Walsh/University of the Sunshine Coast
A expectativa dos pesquisadores, que ampliarão a vacinação nos próximos três meses até o Centro de Reabilitação Moggill Koala e Hospital de Vida Selvagem RSPCA também em Queensland, é que o imunizante contribua para um aumento da sobrevivência e reprodução dos coalas, principalmente em regiões do sudeste de Queensland e New South Wales, onde a doença já afeta mais da metade das populações.
A nova vacina vem sendo desenvolvida há cerca de dez anos e se baseia em uma proteína. Segundo um dos autores do estudo, o professor de microbiologia da Universidade da Costa do Sol Peter Timms, o imunizante já havia sido testado em oito ensaios menores, abrangendo uma população de 250 coalas. Ele garante que a vacina é segura e "não causa nenhum problema”. Ela deve reduzir tanto os níveis de infecção como de transmissão da clamídia.
A clamídia dos coalas pode causar conjuntivites e ocorrências de cistos reprodutivos purulentos nas fêmeas. “Os animais podem literalmente chorar ao urinar, dói demais”, assegura Timms. Embora a transmissão da doença seja predominantemente pela via sexual, há grande preocupação com a forma congênita, quando a mãe passa a doença para seu filhote.
Perspectivas para a nova vacina
Uma das justificativas para a realização do teste da vacina contra a clamídia foram as altas taxas de retorno de coalas ao hospital para tratar novamente da infecção. Timms estima que "10% ou até 20% dos animais que passam pelo Hospital de Vida Selvagem retornam ao local. Em muitos casos, se você os tratar somente com antibióticos, eles geralmente voltam com a doença de novo."
Por isso, na realização dos testes atuais, todos os coalas terão um microchip implantado. Dessa forma, os pesquisadores poderão monitorar, em eventuais retornos ao hospital no ano seguinte, as diferenças entre os animais vacinados e os não vacinados. Enquanto os testes são realizados, a equipe de pesquisadores está providenciando o registro da vacina junto à Autoridade Australiana de Pesticidas e Medicamentos Veterinários.
Fontes