A sífilis, uma infecção sexualmente transmissível (IST) com evolução ameaçadora no número de casos adquiridos na última década, pode estar sendo subnotificada desde o início da pandemia da covid-19. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o medo de contaminação pelo coronavírus pode ter afastado milhares de pacientes de sífilis, que não procuraram os serviços de saúde para relatar sinais e sintomas da infecção bacteriana.
Publicado no mês passado (22) no site da SBD, o alerta se baseou nos últimos números divulgados pelo Ministério da Saúde relativos ao período entre janeiro e junho de 2020, que revelaram a ocorrência de 49 mil casos de sífilis adquirida no Brasil. Embora a média de 8,2 mil casos mensais possa ser considerada elevada, o valor representa uma queda de 36% quando comparado ao informado mensalmente em 2019.
Ainda com base nesses números, a SBD aponta a ocorrência de 783 mil casos de sífilis adquirida no País, de 2010 a 2020. As comparações ano a ano revelam um crescimento significativo da doença, que saltou de 3,9 mil casos em 2010 para 152,9 mil em 2019, um número 39 vezes maior. Em 2010, os registros de sífilis por grupo de 100 mil habitantes eram 2,1, passando a 72,8 em 2019.
A evolução da sífilis
Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é uma IST ainda altamente prevalente no mundo, embora seu tratamento seja relativamente simples e eficaz, através da utilização de penicilina benzatina administrada conforme o estágio clínico do paciente. No entanto, se não tratada precoce e adequadamente, a doença pode ter uma evolução grave, e até mesmo fatal.
Embora passe pelos estágios primário, secundário e latente ou terciário (quando não apresenta mais nenhum sintoma), a sífilis se apresenta inicialmente como uma pequena ferida no local de entrada da bactéria (pênis, vagina, colo uterino, ânus ou boca), que surge alguns dias após o contágio. No entanto, a lesão é indolor e desaparece sozinha em algumas semanas, o que leva muitas pessoas a negligenciá-la.
Outra forma preocupante de sífilis é a congênita, que é transmitida da mãe para o bebê, por via placentária. Nesse caso, a doença pode ser responsável por abortos espontâneos, óbito neonatal ou nascimentos prematuros. Recém-nascidos com sífilis podem apresentar baixo peso ao nascer, incapacidade de ganhar peso (IGP), sequelas neurológicas, inflamação nas articulações, dores nos ossos, perda visual e audição reduzida que pode chegar à surdez.
Fonte: Anqa/Pixabay/ReproduçãoFonte: Anqa/Pixabay
Importância da prevenção
Assim como o tratamento, a prevenção da sífilis também é simples, sendo a forma mais segura, o uso do preservativo masculino ou feminino durante as relações sexuais. Mas, mesmo que a precaução não seja adotada, todo paciente que mantiver atividades sexuais de risco ou relações sem proteção pode procurar uma unidade de saúde o mais rápido possível, a fim de realizar um teste rápido de detecção da sífilis, que é feito gratuitamente na rede pública.
No caso das gestantes, os testes de sífilis devem ser realizados durante a gravidez e também no momento do parto, independentemente de exames anteriores. Se a grávida receber diagnóstico positivo, é possível evitar preventivamente a transmissão da doença para a criança. Segundo o vice-presidente da SBD, Heitor de Sá Gonçalves, a recomendação se estende a todas as "pacientes com vida sexual ativa".
Para Gonçalves, como a covid-19 fragilizou as estratégias de prevenção da sífilis, "cabe aos gestores, médicos e à população recuperar o terreno perdido e reativar as baterias para que essa doença seja diagnosticada e tratada de forma precoce.”
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