Uma pesquisa hospedada no mês passado (22), na plataforma de preprints medRxiv, ainda não revista por pares, levantou uma questão importante em relação à pandemia da covid-19: a capacidade de isolamento respiratório dos hospitais. Muitas enfermarias tiveram de ser adaptadas para o atendimento a pacientes infectados com o vírus SARS-CoV-2 sem a devida precaução com a filtragem do ar.
Com isso, ainda que o uso de equipamentos de proteção individual esteja correto, vários casos de disseminação do vírus da covid-19 têm sido relatados, com contaminações de pacientes para profissionais de saúde. Uma das principais causas desses contágios tem sido as partículas virais no ar. O problema é frequentemente reconhecido tanto entre pacientes como em funcionários das organizações de saúde.
Assim, a pesquisa foi realizada através de um estudo cruzado de dispositivos portáteis de filtração e esterilização do ar em uma enfermaria e uma UTI utilizadas maciçamente por pacientes com covid-19. O objetivo geral foi examinar os efeitos da filtração do ar e da esterilização por luz ultravioleta (UV) no vírus SARS-CoV-2 presente no ar e outros bioaerossóis microbianos detectados.
Testes no mundo real
De acordo com o coautor do estudo, Vilas Navapurkar, médico da UTI do Hospital Addenbrooke em Cambridge, no Reino Unido, embora testes anteriores tenham comprovado a eficácia de filtros de ar em eliminar partículas aéreas em laboratórios, "o que não se sabia era quão eficazes seriam em uma enfermaria do mundo real para limpar o vírus SARS-CoV-2".
Mulher faz troca de filtro em ar-condicionado (créditos: MBLifestyle/Shutterstock)
Para testar o desempenho dos filtros, Navapurkar e seus colegas instalaram em duas enfermarias totalmente ocupadas, filtros Hepa (High Efficiency Particulate Air) de baixo custo, que tratam o ar através de uma fina malha capaz de capturar partículas extremamente pequenas. Depois, os pesquisadores coletaram amostras de ar durante uma semana em que os Hepas estiveram em funcionamento, e duas semanas após sua remoção.
Resultados e aplicabilidades
A análise feita na enfermaria-geral revelou a presença de partículas de SARS-CoV-2 no ar quando o filtro estava desligado, mas não quando estava ligado. Mas o mesmo não aconteceu na UTI, onde poucas partículas foram encontradas, mesmo com o filtro desligado. Uma das explicações para isso, segundo os autores, é uma replicação viral mais lenta em estágios posteriores da doença, o que destaca a preponderância da remoção do vírus em enfermarias.
A conclusão do estudo foi de que filtros de baixo custo são eficientes tanto na proteção contra o SARS-CoV-2 como também para outros patógenos causadores de infecções hospitalares, como Staphylococcus aureus, Escherichia coli e Streptococcus pyogenes. Com isso, o estudo indicou que as infecções hospitalares podem se espalhar através de aerossóis, um importante assunto ainda pouco explorado.
Os resultados representam uma boa notícia para hospitais que já utilizam os filtros Hepa, como os do Brasil, onde esse equipamento é obrigatório desde janeiro de 2003, conforme a Resolução-RE nº 9, da Anvisa.
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