A imagem que a população de um país possui sobre a Ciência pode influenciar muito a forma como o governo trata a produção científica. Para avaliar isso, em muitos países do mundo são realizadas pesquisas de percepção pública para que se possa planejar melhor o direcionamento de recursos para a educação, pesquisa e para a divulgação científica.
A última pesquisa desse tipo no Brasil foi realizada em 2019 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com o Centro de Gestão em Estudos Estratégicos (CGEE). Vale observar que, por conta da pandemia e do contato que as pessoas tiveram com a Ciência, uma nova pesquisa pública seria de grande interesse, mas alguns dos resultados podem servir para analisarmos o cenário atual.
O caso da Ciência no Brasil é complexo, uma vez que lidamos com cortes nos investimentos, que já se encontram abaixo da média mundial segundo a Unesco, e uma queda de 29% no orçamento somente de 2020 para 2021 pode comprometer bastante a continuidade de muitas bolsas de pesquisa. Ainda assim, o Brasil se colocou na décima primeira posição no ranking de países que mais realizaram estudos sobre a covid-19, segundo pesquisa da Universidade de São Paulo baseada na plataforma holandesa Dimensions.
Os últimos resultados nacionais também mostram que a parcela da população que considera necessário aumentar os investimentos em Ciência vem diminuindo (78% em 2015 contra 66% em 2019). Essa queda pode ser avaliada dentro de um contexto de crise econômica e de aumento no preço de muitos serviços e alimentos, no qual a população costuma eleger prioridades.
Em contraponto, segundo relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a resposta de países desenvolvidos em situações de crise, como a pandemia de covid-19, consiste em um aumento nos investimentos em pesquisa como forma de superar melhor e mais rapidamente esse tipo de situação.
Sobre a maneira que os brasileiros veem os cientistas, apesar dos números apontarem um otimismo, com boa parte das pessoas considerando esse profissional como uma “pessoa inteligente que faz coisas úteis à humanidade”, temos também muitos estereótipos presentes no imaginário popular.
O próprio site do CGEE que divulga o resultado da pesquisa de percepção nacional utiliza uma evidente caricatura do cientista Albert Einstein, o que reforça a imagem de que cientistas costumam ser um homem de jaleco sozinho em um laboratório.
Caricatura de Albert Einstein utilizada no site do CGEE para representar um cientista.Fonte: Centro de Gestão de Estudos Estratégicos
O projeto Open Box da Ciência traz um panorama mais diverso do perfil dos pesquisadores brasileiros. Atualmente as mulheres representam 46% dos docentes de Ensino Superior no Brasil e, se considerarmos o mundo todo, elas são maioria em sete áreas do conhecimento, apesar de ainda sofrerem com desigualdade de financiamento no topo da carreira.
Por fim, muitas pessoas teriam dificuldade mesmo em citar o nome de um cientista brasileiro, salvas as exceções que se destacaram durante a pandemia, como o biólogo Átila Iamarino e a microbiologista Natália Pasternak.
Se esse é o seu caso, é provável que você conheça um cientista pessoalmente. Basta pensar naquele(a) conhecido(a) que fez ou está fazendo mestrado ou doutorado, e, caso possível, deixo a sugestão de perguntar a essa pessoa sobre o tema de sua pesquisa e as dificuldades encontradas para entender um pouco melhor a Ciência, como ela é feita e a sua importância para a sociedade.
Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou
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