Quase 200 anos se passaram desde que Beethoven morreu, deixando para trás uma obra inacabada: a Décima Sinfonia. A data de lembrança de sua morte este ano, no entanto, trará uma nova composição "sua" para os fãs. A última obra do músico foi completada pela tecnologia de inteligência artificial (IA). A obra terá estreia mundial em Bonn, na Alemanha, cidade em que o compositor nasceu, e nas principais plataformas de streaming música disponíveis na internet no dia 9 de outubro.
Em 1824, Beethoven estreou com grande sucesso sua obra final, a Sinfonia nº 9 em ré menor. Nos três anos seguintes, trabalhou em uma décima sinfonia, mas morreu antes de completá-la. O que ficou dela foram apenas esboços fragmentados do primeiro movimento. Mas agora, os fragmentos foram transformados em uma peça musical completa por um time de historiadores da música, musicólogos e compositores em parceria com cientistas da computação.
Estátua de Beethoven em Bonn, sua cidade natal, na Alemanha (créditos: chrisdorney/Shutterstock)
Emulando a genialidade de Beethoven
O projeto Beethoven X iniciou o trabalho na obra em 2019 e buscou permanecer fiel ao processo de criação e à visão original de Beethoven. Ahmed Elgammal, professor doutor de Ciência da Computação Universidade de Rutgers (Nova Jérsei, Estados Unidos) e principal cientista da computação envolvido no projeto, escreveu um artigo sobre a experiência de terminar a sinfonia. O material foi publicado no site The Conversation.
O cientista contou que ele e sua equipe precisaram ensinar à maquina todo o trabalho de Beethoven, bem como seu processo criativo. O compositor deixou para trás apenas algumas notas musicais e muitas ideias, o que, para um ser humano, seria possível de finalizar fielmente. Em 1988, Barry Cooper – um musicólogo especializado na obra do compositor – já havia tentado um primeiro movimento, mas não foi capaz de ir além, devido ao material limitado disponível.
Escritas para orquestras, sinfonias costumam ter quatro movimentos: um primeiro rápido, um segundo mais lento e um terceiro médio que leva ao final rápido e apoteótico. A inteligência artificial da equipe de Elgammal precisou fazer isso preenchendo as lacunas deixadas por Bethoven. Para isso, eles contaram com a ajuda de um compositor austríaco: Walter Werzowa. Ele foi encarregado de montar um novo tipo de composição, juntando o que Beethoven deixou para trás com o que a IA gerou.
"Este foi um grande desafio. Não tínhamos uma máquina para a qual pudéssemos alimentar esboços, apertar um botão e fazê-lo cuspir uma sinfonia. A maior parte da IA disponível na época [2019] não conseguia continuar uma peça incompleta de música além de alguns segundos adicionais", explicou Elgammal.
Os músicos do projeto decifraram e transcreveram os esquetes da Décima Sinfonia, tentando entender as intenções de Beethoven. “Este foi um desafio tremendo. Tivemos de ensinar a máquina a pegar uma frase curta, ou mesmo apenas um motivo, e usá-la para desenvolver uma estrutura musical mais longa e complicada, exatamente como Beethoven teria feito", escreveu o cientista no artigo.
Nos 18 meses seguintes, a inteligência artificial construiu e orquestrou dois movimentos inteiros, cada um com duração de 20 minutos. O material então foi testado em audições com especialistas, para ver se eles poderiam determinar onde terminavam as frases de Beethoven e onde começava a extrapolação da IA. Jornalistas, acadêmicos de música e especialistas em Beethoven não conseguiram. O resultado será apresentado no próximo dia 9, pela Beethoven Orquestra, em Bonn.
Dr. Elgammal afirmou que espera alguma resistência, como questionamentos aos limites da IA e da arte. “Mas quando se trata das artes, eu vejo IA não como uma substituta, mas como uma ferramenta”, afirmou o professor.
E você, acredita que uma máquina conseguiu de emular o talento de Beethoven? Há um trecho da obra já disponível na internet, executada pela orquestra. Ouça:
Conte para a gente nos comentários o que achou. A obra completa estará disponível nas principais plataformas de música a partir dia 9, neste link.
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