Qual foi a última música que ficou grudada na sua cabeça? Provavelmente essa música veio à sua mente agora e você vai levar mais algumas horas até esquecê-la novamente, desculpe-nos. Esse efeito, segundo cientistas, se assemelha muito ao mecanismo de contágio de doenças infecciosas.
Mas por que ele ocorre? Como uma música se torna popular? E por que certas músicas se tornam mais populares do que outras? Será que existem mecanismos sociais que impulsionam esses processos? Segundo um estudo realizado no Reino Unido, o número de downloads de muitas canções populares se assemelha às curvas de epidemia de doenças infecciosas.
O artigo sugere que modelos de transmissão dessas doenças — conhecidos como modelo SIR (suscetível – infectado – recuperado) — podem ajudar a esclarecer os mecanismos que contribuem para a disseminação de determinadas preferências musicais. Entre as músicas populares analisadas pelo estudo, 87% se encaixaram no modelo perfeitamente.
Como vírus e músicas se espalham
Existem muitas semelhanças entre o lançamento de um novo hit e o surgimento de uma doença infecciosa: quando uma doença desse tipo entra pela primeira vez em uma população, é transmitida de pessoa para pessoa por meio de interações sociais. A prevalência da doença atinge um pico e depois diminui, à medida em que há menos pessoas suscetíveis.
Agora pense em uma nova canção de sucesso: ela também se espalha rapidamente através da população, de pessoa para pessoa e através de várias mídias — até atingir um pico de popularidade para, depois, diminuir em apelo.
No final de uma epidemia de doença infecciosa, uma grande proporção da população terá sido infectada, enquanto ao final do período de extrema popularidade de uma canção, uma grande parcela da população irá conhecê-la. Lembra de Gangnam Style, do Psy, ou Despacito, do Luis Fonsi? Então.
O rapper sul-coreano Psy apresenta sua música "Gangnam Style" em Nova York, em 2013 (créditos: Debby Wong/Shutterstock)
O estudo sugere que as músicas só se tornam virais se forem contagiosas o suficiente e se existirem as condições sociais certas para que viralizem. Quando os pesquisadores compararam vários gêneros musicais, eles identificaram diferentes tipos de download e de comportamento de compartilhamento de música entre os fãs.
Diferenças populacionais
O estudo descobriu que, dependendo do tipo de população, a "infecção" pode variar: ela pode se espalhar mais rápido, por exemplo. Foi o caso da música eletrônica. Os pesquisadores acreditam que como a comunidade que ouve o gênero é mais unida, engajada e menos espalhada do que em outros ritmos – como o pop –, as músicas se espalham com maior velocidade entre os apreciadores. Como resultado, as músicas eletrônicas de sucesso passam por "epidemias" mais curtas.
A análise do estudo foi feita com base no download de músicas em celulares Nokia realizados na Grã-Bretanha na década passada, entre os anos de 2007 a 2014, mas a equipe acredita que o estudo pode ser replicado no futuro com dados de uso de serviços de streaming de música.
ARTIGO Proceedings of the Royal Society A: doi.org/10.1098/rspa.2021.0457.
Fontes