Desde a tarde de segunda-feira (13), as unidades de saúde da cidade de São Paulo iniciaram a aplicação da vacina da Pfizer em todas as pessoas que estavam com a segunda dose da vacina AstraZeneca em atraso, devido à indisponibilidade do imunizante no Brasil. A princípio, exigiu-se que todos assinassem um termo de consentimento de intercambialidade de vacinas, abolido no dia seguinte.
Essa intercambialidade de imunizantes não é aleatória. A substituição da segunda dose de quem tomou a vacina da AstraZeneca pelo imunizante da Pfizer já tem sido adotada, por questões de segurança, em vários países europeus. Além disso, o procedimento foi aprovado pelo Ministério da Saúde e pelo Plano Estadual de Imunização (PEI), além de ser respaldado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
De acordo com um levantamento feito pela gestão municipal e publicado pelo G1, 340 mil pessoas estão com a segunda dose da AstraZeneca atrasada na capital paulista. O problema ocorre, segundo o secretário municipal da Saúde Edson Aparecido, porque o Ministério da Saúde descumpriu o cronograma de entrega de lote para a segunda dose, o que causou o desabastecimento.
É seguro misturar AstraZeneca com Pfizer?
Um estudo encomendado pelo governo britânico, publicado em versão preprint pelo periódico científico The Lancet em 25 de junho passado, concluiu que é seguro combinar a primeira dose da vacina do consórcio Universidade de Oxford/AstraZeneca com a segunda do imunizante da Pfizer, e vice-versa.
Vacina criada pela Pfizer em parceria com a BioNTech (créditos: Flowersandtraveling/Shutterstock)
Dessa forma, embora a estratégia usual seja a de aplicar o mesmo tipo de vacina em ambas as doses, a pesquisa liderada pela Universidade de Oxford revelou que o intercâmbio entre os imunizantes da AstraZeneca e da Pfizer contra a covid-19 não apenas é seguro, mas também uma maneira eficaz de aumentar a proteção contra o coronavírus. No entanto, os benefícios dependem de qual vacina ocorre primeiro.
Pessoas que tomaram a primeira dose da AstraZeneca seguida pela Pfizer experimentaram um considerável aumento nos anticorpos contra a proteína spike, onde ocorre a maioria das mutações. A experiência revelou-se mais eficaz do que tomar as duas doses da AstraZeneca ou tomar a Pfizer primeiro. Além disso, a combinação AstraZeneca seguida de Pfizer resultou em melhor resposta dos linfócitos T, células imunológicas que, assim como os anticorpos, combatem organismos invasores.
Vacinas combinadas podem ter melhor resposta imunológica?
Realizado em abril deste ano, um estudo espanhol chamado CombivacS, liderado pelo Instituto de Saúde Carlos III de Madri, concluiu que os 663 participantes já vacinados com a primeira dose da AstraZeneca apresentaram níveis muito mais altos de anticorpos após receberem a segunda dose com a vacina da Pfizer. Os participantes do grupo de controle, que não receberam vacinação de reforço, não tiveram nenhuma alteração em seus anticorpos.
Isso acontece em virtude do funcionamento das duas vacinas. Apesar de ambas terem como foco a proteína spike na estimulação do sistema imunológico, seus métodos são diferentes. Enquanto a Pfizer envelopa o próprio código genético do vírus em nanopartículas de gordura, a AstraZeneca fornece também o código para o organismo, porém usando uma forma enfraquecida de vírus do resfriado comum, um adenovírus de chimpanzé.
Sendo assim, é possível que uma resposta imune ocorra não apenas contra a proteína spike aplicada, mas também contra os próprios transportadores, o que faria com que a imunidade desenvolvida na primeira vacina pudesse "atacar" uma segunda dose da mesma. E esse é o segredo do sucesso da vacina Sputnik V da Rússia, que usa dois adenovírus diferentes como transportadores.
Categorias