Alterações na ecologia e na biologia dos seres vivos provocadas pelas mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global deixaram de ser um conceito teórico de ambientalistas e foram cientificamente comprovadas.
Uma pesquisa divulgada no início de setembro, na revista científica Trends in Ecology and Evolution, mostrou que não apenas seres humanos, mas também animais estão tendo que se adaptar às transformações causadas pela mudança na temperatura do planeta.
Principal autora do estudo, a pesquisadora de pássaros Sara Ryding, da Universidade Deakin na Austrália, descreve essas influências que os animais de “sangue quente", notadamente pássaros, estão recebendo do ecossistema (fatores abióticos). Isso resulta em mudanças nos seus apêndices corporais, como bicos, pernas e orelhas, para melhor regular a temperatura dos seus corpos à medida que o planeta esquenta.
Ryding comenta, em um comunicado, que questões muito discutidas na mídia, do tipo se e como os humanos conseguirão superar o aquecimento global, deveriam levar em conta dois fatores. Primeiramente, é que os animais também precisam se adaptar às mudanças climáticas, porém isso está ocorrendo em um período de tempo muito curto em relação à escala evolutiva. “Algumas espécies se adaptam, outras não”, afirma a pesquisadora.
Mais áreas corporais para dissipar o calor
Troca de calor (Fonte: Trends in Ecology & Evolution/Reprodução)Fonte: Trends in Ecology & Evolution
As alterações morfológicas mais profundas relatadas pela pesquisa encontram-se em pássaros, como alguns papagaios australianos (que tiveram incremento de até 10% no tamanho de seus bicos) e pássaros juncos-de-olhos-escuros, mas também em pequenos mamíferos, como os camundongos-de-madeira (que tiveram aumento em suas caudas) e também dos musaranhos mascarados que, além das caudas, estão nascendo com pernas mais compridas.
Para Ryding, essas mudanças de formato deverão provavelmente continuar ocorrendo porque a tendência de elevações crescentes de temperaturas influenciará a demanda de animais por áreas maiores em seus corpos para dissipar o calor. Isso pôde ser comprovado no verão no hemisfério Norte, que registrou as temperaturas mais altas em décadas, consagrando julho como o mês mais quente de todos os tempos na região setentrional do planeta.
No entanto, enfatiza Ryding, todas essas metamorfoses não indicam que animais consigam lidar com mudanças climáticas e que tudo esteja bem. Isso significa apenas que eles estão evoluindo rapidamente para sobreviver. "Mas não temos certeza de quais são as outras consequências ecológicas dessas mudanças". Se outros apêndices começarem a aumentar, como orelhas, é possível termos em breve uma versão live-action do Dumbo, brinca.
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