A morte de um menino de 12 anos ocorrida na semana passada em um hospital da cidade de Calicute, na costa ocidental da Índia, tem chamado a atenção da mídia mundial pela causa: segundo as autoridades de saúde do estado de Kerala, a criança morreu em decorrência de infecção causada pelo vírus Nipah (NiP), um patógeno com taxa de mortalidade de até 75%, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Hospitalizado durante uma semana, segundo a emissora norte-americana CBS, o jovem apresentou uma febre muito alta e sua situação foi se agravando, com sinais de encefalite (inflamação e inchaço no cérebro) e ele faleceu.
De acordo com rede de TV, o garoto teve contato com 188 pessoas antes de morrer. Todos estão passando por quarentena ou estão hospitalizados, em uma tentativa de conter o avanço do vírus.
O vírus Nipah
Muito mais mortal do que o coronavírus SARS-CoV-2, embora menos transmissível, o Nipah é um vírus zoonótico, o que significa que é transmitido de animais para seres humanos. Ele também pode ser transmitido por alimentos contaminados ou diretamente entre pessoas.
Os morcegos frugívoros da família Pteropodidae são os principais vetores, embora o patógeno tenha, em seu primeiro surto na Malásia em 1999, infectado porcos, cavalos, cabras, ovelhas, gatos e cães.
Segundo a OMS, a maioria dessas primeiras infecções ocorreu após contato humano desprotegido com as secreções de porcos doentes, ou seus tecidos contaminados. Já nos surtos ocorridos posteriormente em Bangladesh e na Índia, a fonte mais provável da infecção foi o consumo de frutas ou produtos derivados (como o popular suco de tamareira) contaminados com urina ou saliva de morcegos.
Partícula extracelular madura do vírus Nipah obtida por micrografia eletrônica (Fonte: NIAID - Nipah Virus Particle/Wikimedia Commons/Reprodução)Fonte: NIAID - Nipah Virus Particle/Wikimedia Commons
Sintomas da doença causada pelo Nipah
Os seres humanos contaminados pelo vírus Nipah podem apresentar, conforme a OMS, desde infecção assintomática até infecção respiratória (leve ou grave) e encefalite fatal. Os principais sintomas inicialmente relatados são: febre, dores de cabeça, mialgia (dores musculares), vômitos e dor de garganta. Pode também ocorrer tontura, sonolência, alterações da consciência e sinais neurológicos, que podem ser um indicativo da encefalite aguda.
O período de incubação, que ocorre entre a infecção e o início dos sintomas, varia entre 4 a 14 dias. Nos casos graves, encefalite e convulsões evoluem para o coma entre 24 a 48 horas. Algumas dessas pessoas conseguem até sobreviver e se recuperar totalmente, mas cerca de 20% dos pacientes ficam com sequelas neurológicas, como distúrbios convulsivos e alterações de personalidade, podendo ainda apresentar recidivas.
O Nipah pode causar uma pandemia?
Embora os surtos do Nipah nunca tenham atingido um nível pandêmico desde a sua descoberta em 1999, é possível, de acordo com as autoridades sanitárias, que ele possa dar origem a uma pandemia. Por isso, a OMS já incluiu o vírus na sua lista de doenças e patógenos priorizados para pesquisa e desenvolvimento em contextos de emergência.
De acordo com a principal formuladora de normas sanitárias internacionais, não há qualquer tipo de tratamento para o vírus Nipah, ou seja, nenhum tipo de vacina para impedir a contaminação ou medicamentos que melhorem o quadro.