Tumores no cérebro, como gliomas, costumam ter sintomas inespecíficos (como dores de cabeça ou alterações de memória) e, por isso, acabam ficando indetectáveis até aumentarem ou atingirem um grau mais alto — causando problemas e diminuindo a probabilidade de um bom resultado no tratamento. Agora, pesquisadores da Dxcover, uma empresa universitária escocesa, desenvolveram uma biópsia líquida que é capaz de detectar esses tumores ainda em estágio inicial.
Atualmente o diagnóstico de um câncer no cérebro é feito por meio de exames de imagem, como ressonância magnética (RNM) e tomografia computadorizada (TC), que possuem um índice de acerto de cerca de 95%. A tecnologia das biópsias líquidas disponíveis hoje não consegue detectar câncer cerebral.
Teste desenvolvido pela empresa escocesa Dxcover (créditos: Dxcover/divulgação)
Isso acontece porque tumores localizados no Sistema Nervoso Central quase sempre exibem níveis baixos ou ausentes de DNA tumoral circulante (ctDNA). Ou seja: a tecnologia atual só detecta cânceres cerebrais que estão em estágio muito avançado. Logo, uma biópsia líquida que detecte tumores no cérebro em estágio inicial poderia revolucionar o diagnóstico e tratamento da doença.
Para isso, os pesquisadores da empresa Dxcover desenvolveram uma abordagem alternativa às biópsias líquidas comuns. Ao invés de detectar material genético específico, eles analisam a composição molecular da amostra de sangue por meio de espectroscopia de infravermelho combinada com algoritmos de machine learning (aprendizado de máquina).
“A espectroscopia é usada como uma avaliação ampla de toda a composição da amostra de sangue, que contém mais de 20.000 moléculas”, explicou ao site Physics World o pesquisador Ashton Theakstone, da Universidade de Strathclyde, em Glasglow (Escócia).
Theakstone é um dos autores do artigo sobre a nova técnica publicado no fim de julho na revista científica Cancers.
Desenvolvendo a nova biópsia líquida
Em seu último estudo, Theakstone e seus colegas examinaram 177 amostras de soro sanguíneo de pacientes com tamanhos variados de tumores cerebrais, incluindo 90 pacientes com gliomas de alto e baixo grau, bem como 87 pacientes controles (assintomáticos). Os pesquisadores mediram os volumes dos tumores usando imagens de ressonância magnética e dividiram os pacientes em dois grupos, dependendo de seus resultados.
A equipe realizou biópsias líquidas com análise de componentes principais (PCA) para examinar os espectros de portadores de tumores de glioblastoma de grau IV e de pacientes controle. A análise se revelou diferente entre pacientes com tumores e o grupo de controle.
O time fez mais três análises para diferenciar esses tumores de alto grau dos controles. Entre os testes, o PLS-DA diferenciou pacientes com tumores de pacientes controle com sensibilidade de 88,7%, especificidade de 94,7% e acurácia de 91,7%. O modelo foi capaz de identificar corretamente um tumor de apenas 0,2 cm³.
“Portanto, podemos afirmar com segurança que este modelo identificará tumores tão pequenos quanto 0,2 cm³ com 100% de taxa de sucesso neste exemplo específico”, afirmou Theakstone.
Os pesquisadores concluíram que a biópsia líquida espectroscópica desenvolvida por eles é uma grande promessa como ferramenta de diagnóstico potencial para descobrir precocemente tumores cerebrais. Ao contrário de outras biópsias líquidas, a abordagem da pesquisa parece insensível ao volume do tumor. Logo, segundo o time, o teste pode ser usado para triagem e detecção de câncer no cérebro em estágio inicial.
A Dxcover, empresa associada à Universidade de Strathclyde, agora está comercializando uma plataforma de detecção precoce baseada na técnica espectroscópica de biópsia líquida desenvolvida por sua equipe. “Este avanço é um momento decisivo no desenvolvimento da detecção precoce do câncer”, disse Matthew Baker, diretor técnico e co-fundador da Dxcover, em um comunicado à imprensa.
Segudo Baker, a biópsia líquida da empresa pode aumentar as opções de tratamento e, potencialmente, estender a expectativa de vida dos portadores da doença.
ARTIGO Cancers: doi.org/10.3390/cancers13153851
Fontes