Neste domingo (5) é celebrado o dia da Amazônia, considerada uma das principais florestas do mundo, com uma diversidade de espécies tão grande que boa parte ainda não é nem conhecida pela ciência.
Para além da beleza e dos serviços ambientais prestados para o Brasil, a Amazônia é um ponto crítico no cenário das mudanças climáticas — a região deve sofrer profundos impactos, mas se for devidamente protegida, pode ajudar a minimizar consequências negativas no futuro.
"Nenhum efeito na Amazônia fica restrito à região. A Amazônia é uma chave crucial do sistema climático brasileiro e global. Se ela perde o equilíbrio, desestabiliza muita coisa no resto do mundo”, afirma o biólogo Caio Mattos, explorador da Nat Geo que desenvolve pesquisas em ecologia florestal e hidrologia.
Vista do rio Amazonas (créditos: worldclassphoto/Shutterstock)
Segundo Mattos, o aumento na temperatura global, que deve tornar eventos extremos cada vez mais frequentes, sejam ligados ao calor ou ao frio, devem ter efeitos dramáticos no futuro da Amazônia.
“O que muito provavelmente deve acontecer é a ocorrência de períodos de seca cada vez mais longos e as chuvas, quando caírem, ficarem mais intensas e concentradas em um período de tempo mais curto", diz o cientista. A alternância entre esses dois cenários de uma maneira mais brusca deve mexer com o funcionamento da floresta como um todo.
“O nível dos rios devem diminuir, e as cidades [que dependem dessas águas para o transporte] podem ficar isoladas", Caio Mattos (biólogo e explorador do Nat Geo)
O aumento das queimadas, favorecidas pela seca, não só prejudicam a vida animal — a fumaça tem impacto direto na saúde da população local, trazendo problemas de saúde pública.
Um artigo publicado no início deste mês por um grupo internacional de pesquisadores concluiu que até 85% das espécies ameaçadas da Amazônia sofreram impactos das queimadas desde 2001. O estudo foi publicado na revista científica Nature.
O resto do país também sofre com a Amazônia, diz Mattos. “O regime de chuvas no Sul e no Sudeste está ligado à Amazônia. Pelo menos parte da crise hídrica que a gente sofre agora pode estar relacionada às queimadas e ao impacto sobre o transporte de umidade”, afirma.
O que pode ser feito
Podemos reverter as previsões dramáticas? Para Mattos é possível, pelo menos em partes. Mas, para isso, as ações devem estar em todos os níveis, desde o governo federal até cada brasileiro, passando pelas organizações da sociedade civil, que podem pressionar por atitudes mais concretas e eficientes.
Segundo o cientista, os investimentos em pesquisa — sucessivamente cortados nos últimos anos — são essenciais e precisam ser retomados e ampliados para enfrentar o futuro que nos aguarda.
“A pesquisa científica é a única maneira para a gente se preparar. Sem pesquisa, não sabemos o que vai acontecer, nem quando, e não conseguimos nos preparar para diminuir os impactos”, Caio Mattos (biólogo e explorador do Nat Geo)
O relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), ligado à ONU (Organização das Nações Unidas), publicado no início de agosto, mostra, com a compilação massiva de dados científicos sobre o clima no mundo, que alguns dos efeitos das mudanças climáticas podem ser revertidos ou pelo menos limitados; mas a ação precisa ser rápida.
No relatório, os cientistas afirmam ainda que, embora essas mudanças na temperatura sejam esperadas naturalmente, está claro agora que a velocidade e a intensidade das mudanças climáticas estão relacionadas à ação humana.
Área ilegalmente desmatada no Parque Nacional do Jamanxim, na Amazônia (créditos: PARALAXIS/Shutterstock)
Segundo Mattos, o Brasil pode atuar em dois eixos principais: zerar as emissões dos gases do efeito estufa (grandes responsáveis pelo aquecimento global) e atuar para preservar a natureza, o que pode minimizar os impactos negativos do aumento da temperatura no mundo.
“Infelizmente, nos últimos anos, desde o início do governo Bolsonaro, notamos um crescimento expressivo no desmatamento”, afirma o biólogo. “A solução para a crise climática deve passar por todos os níveis; estados e municípios também precisam atuar", diz.
No nível individual, Mattos sugere repensar o consumo. “Onde e como é produzido o alimento que eu estou comprando? Hoje, há maneiras fáceis de acompanhar como as empresas estão fazendo a sua parte. Podemos ainda diminuir o consumo de carne, que demanda muita água e muita terra e é mortal para o clima", diz.
“O consumo é a nossa pegada ambiental. Precisamos repensar onde colocamos nosso dinheiro”, finaliza Mattos.
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