Mais de 700 milhões de pessoas vivem com hipertensão não tratada, segundo o maior estudo realizado até hoje sobre as tendências globais da doença.
A pesquisa teve participação de mais de 1.100 médicos e cientistas de 184 países — cobrindo 99% da população mundial — e foi liderado pelo Imperial College London em conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que financiou o estudo.
Os resultados foram publicados no dia 24 de agosto no periódico científico The Lancet, um dos mais respeitados na área da saúde.
Para ter uma ideia da quantidade de gente que convive com a pressão alta sem tratamento, vamos utilizar a população brasileira como referência: são 3,3 vezes o número de brasileiros vivos — se levarmos em conta a população de 213,3 milhões de pessoas estimada pelo IBGE e publicada em 26 de agosto no Diário Oficial da União. É muita gente com risco aumentado de sofrer ataque cardíaco, derrame e outras doenças.
O estudo salienta que, no Brasil, o tratamento e controle da hipertensão foram substancialmente aprimorados desde 1990, embora ainda tenhamos muito a melhorar. No mundo, cerca de 1,2 bilhão de pessoas sofrem com hipertensão. Aqui, os casos aumentaram mais entre os homens, mas a porcentagem de pessoas sem tratamento caiu pela metade: de aproximadamente 30% para 15% dos portadores da doença.
A hipertensão aumenta significativamente o risco de doenças cardíacas, cerebrais e renais e é uma das principais causas de morte e doenças em todo o mundo. Ela pode ser facilmente detectada pela medição da pressão arterial e tratada de maneira eficaz com tratamentos de baixo custo. No Brasil, diversos medicamentos para o tratamento são subsidiados pelo governo federal por meio do programa Farmácia Popular.
Segundo o estudo, que cobriu o período de 1990 a 2019, o número de adultos com idade entre 30 e 79 anos que possuem hipertensão no mundo aumentou de 650 milhões para 1,28 bilhão nos últimos trinta anos — e quase metade dessas pessoas não sabia que era hipertensa.
Pobreza X hipertensão
Ao analisar os dados, os pesquisadores descobriram que os casos da doença migraram das nações ricas para os países de baixa e média renda: a taxa de hipertensão diminuiu nos países ricos e aumentou nos demais.
Embora o percentual de pessoas com hipertensão tenha mudado pouco desde 1990, o número de hipertensos dobrou. Isso se deve, segundo os pesquisadores, principalmente ao crescimento e envelhecimento da população.
Em 2019, mais de um bilhão de pessoas com hipertensão (82% de todas as pessoas com hipertensão no mundo) viviam em países de baixa e média renda.
Canadá, Peru e Suíça tiveram uma das prevalências de hipertensão mais baixas do mundo em 2019, enquanto as taxas mais altas foram observadas na República Dominicana, Jamaica e Paraguai, para mulheres, e Hungria, Paraguai e Polônia para homens.
Os dados completos da pesquisa, incluindo discriminação por país, estão disponíveis no site do NCDRisC.
Lacunas no diagnóstico e tratamento
Cerca de 580 milhões de pessoas com hipertensão (41% das mulheres e 51% dos homens) desconheciam a condição porque nunca receberam o diagnóstico. 720 milhões de pessoas não estavam recebendo o tratamento adequado.
Majid Ezzati, autor sênior do estudo e professor de Saúde Ambiental Global do Imperial College London disse, em comunicado à imprensa, que quase meio século depois de começarmos a tratar a hipertensão — que é fácil ser diagnosticada e tratada, com baixo custo em medicamentos —, "é uma falha de saúde pública que tantas pessoas com pressão alta no mundo ainda não estejam recebendo o tratamento de que precisam”.
Enquanto homens e mulheres no Canadá, Islândia e Coreia do Sul têm maior probabilidade de receber medicamentos para tratar e controlar de forma eficaz sua hipertensão, com mais de 70% dos hipertensos recebendo tratamento em 2019, homens e mulheres na África Subsaariana, centro, sul e sudeste da Ásia e países das Ilhas do Pacífico têm taxas de tratamento inferiores a 25% para mulheres e 20% para homens, criando uma enorme desigualdade global.
A OMS lançou, junto com o estudo, a 'Diretriz da OMS para o tratamento farmacológico da hipertensão em adultos', que fornece novas recomendações para ajudar os países a melhorar o manejo da hipertensão.
ARTIGO The Lancet: doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01330-1
Fontes