Pesquisadores do mundo inteiro têm se surpreendido com a quantidade de pessoas que têm uma artéria extra em seus braços. Esse terceiro vaso sanguíneo embrionário que, teoricamente, deveria ter desaparecido na oitava semana de gravidez, pode ser uma prova de que o Homo sapiens continua evoluindo.
A questão intrigou um grupo de cientistas da Universidade Flinders, em Adelaide (Austrália) que, a partir de um levantamento feito por anatomistas do século XVIII, realizou uma pesquisa com cadáveres doados à ciência naquele país. Todos os corpos eram de pessoas com ascendência europeia, e nascidos no século XX.
Publicado no ano passado, na revista científica Journal of Anatomy, o estudo revelou, após analisar 78 membros superiores, que a prevalência da artéria mediana em adultos saltou de 10% entre as pessoas nascidas em meados da década de 1880, para 30% entre os nascidos no final do século XX. “É um aumento significativo em um período bastante curto de tempo, quando se trata de evolução”, afirmou Teghan Lucas, a principal autora do estudo.
O que é a artéria mediana?
A artéria mediana fica entre as artérias ulnar e radial. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)Fonte: Shutterstock
Todos os seres humanos têm duas artérias nos braços, a ulnar, em cima do osso do mesmo nome, e a radial que é aquela que sentimos quando tomamos a pulsação de alguém. Mas, quando ainda estamos nos úteros de nossas mães, temos uma terceira artéria, chamada mediana (porque ela acompanha o nervo mediano), que transporta sangue no interior dos nossos braços, para alimentar as mãos em crescimento.
Por volta da oitava semana de gravidez, ainda antes de se transformar em feto, o embrião perde a artéria mediana, que regride e “transfere” suas funções para os outros dois vasos braquiais. Porém, algumas pessoas nascem com as três artérias em pleno funcionamento, tanto no antebraço quanto nas mãos, em uma condição conhecida como “persistência da artéria mediana”.
É bom ou ruim ter uma artéria mediana?
A descoberta de que a incidência da artéria mediana se tornou, após pouco mais de um século, três vezes mais comum nos adultos modernos sugere que a seleção natural tem privilegiado aqueles que estão com um condutor extra de sangue bom. Isso pode ser resultado de mutações genéticas “ou problemas de saúde das mães, ou ambos”, teoriza a anatomista Lucas.
É lícito supor que ter uma artéria extra funcionando no antebraço poderia teoricamente fornecer uma injeção maior de sangue aos nossos dedos cada vez mais digitadores. A inserção de mais um vaso nos tecidos pode também aumentar o risco de ocorrência da condição desconfortável conhecida como síndrome do túnel do carpo, que pode incapacitar o uso das mãos.
De qualquer forma, novas pesquisas ainda serão necessárias para apurar se o aumento da incidência da terceira artéria é um caso de microevolução genética, uma alteração sutil na frequência dos genes em determinadas populações durante um período observável, ou tudo não passa de uma simples aleatoriedade, conhecida como deriva genética.
Os autores da pesquisa especulam que, “se essa tendência continuar, a maioria das pessoas terá a artéria mediana do antebraço em 2100”, conclui Teghan Lucas.
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